LEITURA
dedos sobre folhas ansiosas em se fechar
pele sobre palavras sobre pretéritos
digitais que se fixam entre as pretas tintas
na página 44 duas pessoas procuram um lápis
e eu as esquadrinho entre as frases de antes
sujeitos de papel que me olham sem olhos
de cá fora e eu as vejo sem enxergar
pelas retinas, numa busca mais pra cima.
***
Cutículas Abertas
Assim que se arranca
Propositadamente
Desejo de corte da
Pele protetora
— fortalece
Aura da unha
: rosadinha
Ânsia de ver melhor
Corar ali
Alicate de —
Já me feriram
Politicamente
E cutuco da esquerda
Pra direita
Mas a cutícula acaba
No setor privado
De mim
Roendo os dedos de
milhares
Unhas de fome
Sangrando de epiderme
Tudo fervendo de verme
Se pudesse...
Arranhava a cara da miséria
Mas é duro o pau oco
E lasca minha unha
Fraca mas
De cutículas abertas
***
e estamos misturados nessa estória
a noite é que te colore em minhas horas acesas
assim flexionando o que é nosso
escute meus murmúrios de quase ouvido no vento de teus versos
o vento é instante que acena quando passa
não fuja, solte-o
sinta a bofetada no rosto
que estilhaça cristais
rasgo que alcança a verve
triture gelo
nada que se conserve
bom comer-se,
mastigar todos os pedacinhos da última foto
e vomitar margaridas
Não deixem de conferir o blog de Beatriz Bajo: http://lindagraal.blogspot.com/
REVISTA COYOTE Nº18

COYOTE
Revista de Literatura e Arte
N.18 * Londrina (PR) * Primavera de 2008
Uma publicação da Kan editora
Editores: Ademir Assunção* Marcos Losnak * Rodrigo Garcia Lopes
Consultor de fotografia: Juvenal Pereira
Foto da capa: Iatã Cannabrava
Ilustração da contracapa: Paulo Stocker
Distribuição nacional: Iluminuras - http://www.iluminuras.com.br/
e-mail:revistacoyote@uol.com.br
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