quarta-feira, 30 de abril de 2008

Elogio à Amizade

Primeiro, estava crítico a certas posturas e pensamentos filosóficos. Mas quanto mais se desenrolava essa amizade, mais crescia em interlocução. São noites boêmias e interrogativas, sambas que nascem do nada, metafísicos, andanças fundamentais na noite que se repete. Aprendi que todos dormem, que o dia é único, que os sambas são alvoradas.

Felipe Stefani.


Fotos: Felipe Stefani. (Marcelo Ariel no lançamento de "Tratado dos Anjos Afogados")



Inland Empire Opus
" O sonho em si mesmo é somente uma sombra"
Shakespeare em Hamlet


A imagem se dilui em imagemo vermelho se impõe ao azul anterior
quando volto ao ponto onde nada ocorrere
flexo da vida em sonho
que se desdobra
em sequencia de sonhos acordados
onde o olho é invadido ou vencido
por um exército de imagens
A guerra é árdua
desata-se entre ossos trêmulos
ergue-se no pânico
morre em palmas áridas
em um teatro vazio dentro do olho
campo onde ocorre o drama
o sangue da guerra
o delirio da dança
cancelando as fronteiras
entre o que vive
dentro
e o que
age
a partir de um centro absolutamente onírico
tão intenso quanto um grito musical
Acordo, morro
e vibro
toda vida se desenrola ardendo neste Olimpo
abandonado do real.
Toda imagem é vingativa e vive
a partir do centro deste teatro sem fronteiras
construido por uma teia luminosa
que
embaralha o visto e o sonhado
como
"em nós"
o passado relembrado
"cria"
ao tentarmos reconstruí-lo
"o passado pensado"
anda para trás
pelo futuro que nos percorre
na batalha do corpo contra a sombra
no delirio
do despertar
(Equivalentea
o ato
de sair do cinema
dentro do filme)


Felipe Stefani e Marcelo Ariel 2007

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Relações.

Tenho conversado muito com o escultor Megumi Yuasa e o poeta Andre Setti, sobre como unir as diversas linguagens artísticas. Acho que essa união acontece subjetivamente. Pretendemos fazer uma exposição, onde mostraremos essa tentativa de união, expondo não só a obra acabada, mas também o processo de criação, as tentativas, pensamentos, rascunhos, assim como tudo aquilo que esta em relação com o artista, suas parcerias e amizades, correspondências, andanças e meditações. Uma exposição sobre o processo. Quero que esse blog faça parte disso. Este post é só uma tentativa, ainda extremamente prosaica de unir as linguagens. O próprio post é uma tentativa, um rascunho, unindo coisas que a princípio poderiam ser consideradas separadamente. Fiquei muito feliz quando recebi da poeta Maiara Gouveia, um poema ainda inacabado, para que eu faça as ilustrações. O que me deixou contente foi ver que o poema é também, de certa forma, uma tentativa de união das linguagens, sendo uma espécie de teatro-dança barroca e remetendo a imagens pictóricas. Além, é claro, da união do poema com as ilustrações. Tenho escrito poemas bastante libertários, livres de pontuação e talvez de sentido, assim como poemas mais tradicionais e construtivos, buscando novas formas de rimas, estrutura e aliterações, aliás, nada mais transgressor hoje em dia que escrever poemas tradicionais . Quero postá-los aqui em breve , para que, no espírito da futura exposição que farei com o Megumi, possa expor o meu processo de criação, que se busca nesses extremos.

Felipe Stefani.
Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.

Na oblíqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.

Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silêncio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.

Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.

Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.



***
Esculturas: Megumi Yuasa; Foto: Felipe Stefani
Desenho: Sandra Lagua
Fotografia: Nilton Leal
Poema: Felipe Stefani

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pernambuco - Desenhos de Felipe Stefani.





Fui para o Recife, neste feriado de Tiradentes, visitar um amigo e a satisfação não poderia ser maior. Me sinto um privilegiado por ter revisitado essa terra com a qual me identifico tanto, pois já é a segunda vez que vou para lá. Acho que o que faz a paisagem é o povo e o povo pernambucano me encantou, sua simpatia, suas historias e piadas, seu calor e criatividade, enfim. Saudades... Esses são alguns dos desenhos que fiz por minhas andanças pelas terras pernambucanas, todos feitos em meu pequeno caderno de anotações.
Já que ainda não escrevi nenhum poema sobre essa viajem, vou deixá-los com esse poema do João Cabral, que tanto me lembra Pernambuco. João Cabral, com seu surrealismo metrificado e preciso, lapidado, seu cordel simbólico, sua escrita mineral:





O Canavial e o Mar



O que o mar sim ensina ao canavial:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial sim ensina ao mar:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
.
O que o mar não ensina ao canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial não ensina ao mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.

João Cabral de Melo Neto



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Felipe Stefani.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Três Telas De Felipe Stefani.

A Face Terrível do Mundo; 2007
Sem Titulo; 2006
Tristeza; 2006

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Poema Inédito de Felipe Stefani, no Site da Revista Cult.

"Pois a aurora é como uma colheita
E o corpo aberto e puro
Alcança a música."

Foi publicado esse mês um poema inédito de Felipe Stefani no site da Revista Cult. Não deixem de prestigiar. Esse é o link: http://revistacult.uol.com.br/website/oficinaTexto.asp?edtCode=EF641083-3D32-4F8C-9C5D-30564DAAF6B4&nwsCode=18B32E48-432E-43EB-A0D1-798DFECC681D

A Herança da Arte.

Giotto; Crucificação.
Mark Rothko; Vermelho e Azul Sobre Vermelho.
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Tenho a tendência de ver a história como cíclica . Acredito que a era moderna começou entre o fim da Idade Media e começo da Renascença.
Entre Giotto e Rothko vejo um caminho que passa, talvez, pela liberdade que o artista foi ganhando com o tempo e pela mudança de visão que aconteceu na filosofia depois de Descartes. Muita coisa aconteceu na arte entre estes dois artistas: a pintura flamenca, a Renascença, o Barroco, o Neo-Classisismo, Impressionismo, Expressionismo e ainda muitas outras coisas importantes. Acho que não devemos negar a herança do modernismo e mesmo do pós-modernismo, porém, junto disso, não seria a hora de resgatar aspectos da arte que foram deixados de lado? Não só da Renascença em diante, mas mesmo coisas mais antigas, como a pintura Bizantina, por exemplo. Acho que é o momento de meditarmos sobre isso.
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Felipe Stefani.


quinta-feira, 3 de abril de 2008

Os Nibelungos de Fritz Lang






Assisti há alguns meses ao filme “Os Nibelungos”, de Fritz Lang e estou até agora impressionado. Baseado no folclore alemão e usando todos os recursos da então poderosa produtora alemã UFA, esta obra prima é dividida em duas partes,“A Morte de Siegfried” e “A Vingança de Kriemhild”. Não vou entrar aqui nos detalhes da historia desse filme, que quase quebrou a UFA, devido ao dinheiro gasto em sua grandiosa produção. O que quero dizer aqui é que para mim esse filme é um dos maiores marcos da historia do cinema. Artisticamente, influenciou cineastas posteriores, como François Trufaut, Godard, entre outros grandes. Os efeitos especiais são incrivelmente avançados para época. Juro que a cena onde ele enfrenta o Dragão me pareceu cem por cento real (tá, oitenta por cento), lembrando que o épico foi filmado em 1923. A historia é linda, realmente linda. A produção custou tanto dinheiro, que como eu disse, quase quebrou a UFA e fez com que os filmes do dito cinema expressionista alemão mudassem dos épicos para filmes que abordassem temas do cotidiano, com poucas locações, atores e figurinos. Então, se você se considera um cinéfilo e ainda não viu esse clássico do cinema mudo e expressionista, vá agora atrás. Para quem mora em São Paulo, na locadora 2001 você pode encontrar o DVD do filme.

Felipe Stefani.