sábado, 21 de fevereiro de 2009

Como operário no alfabeto das horas,
cumpri o enorme grito do meu nome,
dentro das florestas extraordinárias
da inocência.
Após a cerimônia da manhã interior,
que nos queima as entranhas,
ao meio-dia lancei-me faiscante para fora
dessa treva cheia de planetas espelhados.
Sobre a tarde de repente, atravessando oceanos vivos,
estendiam-se platôs exteriores,
centros gravitacionais mais quentes que o abismo
do meu vôo.

E teu sexo trilhava o coração e a raiz
desta noite sufocada de luz.

É isso o amor?
Uma prisão esplêndida.
No dentro e no fora da elegante
demência que naufraga,
sei que toca as partes vivas e a morte
do enlace onde nasce a musica.

E as estações nos moldam a chama
e a simetria,
até a luz além da luz da vida.


Felipe Stefani.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

DANCING WITH MYSELF

É isso o mundo? É isso a vida?

“Leia o livro ‘O Universo em desencanto’”.

Calouros da USP
bebem cerveja e fumam marijuana.

É isso o mundo? É isso a vida?

Me aproximo desta festa,
que me cheira a decadência.
“Sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?”

Observo-os com olhos neutros,
“I’m dancing with myself”.

É isso o mundo? É isso a vida?

Uma menina vê meu olhar.
“O que você está fazendo?”
“Assistindo vocês”,
ela sorri.

Acordo, leio,
dou aulas, dou aulas
de inglês, com pitadas de filosofia.

É isso o mundo? É isso a vida?

Mas a música é boa,
a cerveja é boa,
os corpos estão alegres e dançam.

Sinto-me velho,
com olhos seculares contra tamanha juventude.

Isso é o mundo, isso é a vida
e danço.

André Setti

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009




A Jorge Luis Borges

A canoa de bambu fugia pelas ruínas circulares do assombro, quando, de relance, no jogo costumeiro das lembranças, vi em mim um tempo que não era tempo e era todos, feito uma pirâmide, pilastra grega se alastrando pelos mares do assombro, enquanto a canoa fugia pelas ruínas circulares da lembrança.

André Setti