segunda-feira, 29 de junho de 2009

Jesus em Samaria


Ainda não emergido da minha fonte onde as oliveiras choram morrerei amanha nos espinhos nas quedas da paisagem do silêncio continuo
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Texto e Desenho de Felipe Stefani
Mais desenhos do autor, aqui: http://www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O poeta Marcelo Novaes escreve sobre o lançamento do livro de Felipe Stefani na Casas das Rosas

Casa da Rosas




Estive ontem na Casa das Rosas para o lançamento do livro “O Corpo Possível” de Felipe Stefani. Ambiente camarada. Felipe me deu a oportunidade de conhecer e apertar as mãos do ceramista e escultor Megumi Yuasa. Se o leitor nem imagina de quem se trata, vai uma palhinha, extraída do site cultural do Itaú:Yuasa, Megumi (1938)



"Megumi Yuasa (São Paulo, 1938) é o mais refinado ceramista do Brasil. Mais do que isso, Megumi é um dos melhores escultores do país dos últimos vinte anos. A sua obra é uma oportunidade para a reflexão e é uma possibilidade de nos impregnarmos do delicado prazer que só a forma artística de alta concepção pode proporcionar. O trabalho de Megumi Yuasa destaca-se pela capacidade na elaboração de formas sutis, de relações harmoniosas e, paradoxalmente, inesperadas. A origem da concepção dessas formas é orgânica, o que explica o arredondado, a semelhança com partes reconhecíveis de vegetais e de corpos, as curvas sinuosas. A harmonia vem dessa origem e da possibilidade infinita de ajustamento de partes redondas".Jacob KlintowitzKLINTOWITZ, Jacob. O ofício da arte: a escultura. São Paulo: Sesc, 1988. p. 141.Megumi Yuasa







Escultura de Megumi Yuasa, Foto: Felipe Stefani




Megumi é um cara sólido. Gentilmente sólido. Um artista com todos os melhores traços de sua ancestralidade nipônica: gentil, atento, solícito. Eu observava o Felipe assinando autógrafos, com uma parcimônia (ou lerdeza) que lembraria a de um monge Zen, não fosse o rubor na face, a denunciar-lhe a timidez. Felipe é pacífico e pacifista n”O Possível que o Corpo lhe permite ser”. Não aparenta carregar as “tensões típicas” de um poeta. Não traz o semblante conflitado, nem modos afetados, longe disso. Felipe tem o “look” de um surfista, o que também é. Pinta e desenha com espantosa fluidez e velocidade. Congrega amigos, faz questão das interações, e não o faz como mestre-de-cerimônias [aliás, sem cerimônia alguma]: apresenta e deixa que nós, apresentados, nos entendamos. Não centraliza o meio de campo. Não fica distribuindo a bola [e centralizando o jogo]. Apresenta. E calmamente assiste ao jogo, dentro do próprio campo, dando seus toques quando acha que deve dar. Foi assim na pizzaria para onde fomos [alguns de nós] após o lançamento.

Ali, ganhei o “Teatro das Horas” do bom poeta André Setti. É uma geração da casa dos trinta anos. Eu era o “tiozão” da mesa, já perto dos cinquenta. A posição não era nada desconfortável, muito menos patética. Isso por se tratar de gente interessada, estudiosa, comprometida. Mas também descontraída. E Felipe faz a ponte com gente de todas as artes e gerações, como no caso de me apresentar Megumi. Marcelo Ariel também estava lá. É da casa dos quarenta, o poeta e multi-performer. Conhece gente de todas as tribos e áreas. Seria uma espécie de “interlocutor oficial inter-disciplinas estéticas” da minha geração [a literatura cabendo aí, sem nenhuma auto-suficiência, e dialogando com o Teatro e o Cinema o tempo todo, além da Filosofia], independente de ocupar as mídias oficiais pelas bordas, pelo acostamento da via principal. É por aí: o lugar fora do alcance do confisco. Ou do sequestro. Ariel [anjo negro que é] não se permite ser sequestrado em seu labor frenético. Faz curtas, peças, textos, edita livros. E me contou que está para abrir mais um blog. Na quinta da semana que vem, estará lançando trabalho seu na Casa das Rosas. Ou fazendo leituras. Ou performances. Ou algo assim. E sempre há alguma coisa boa naquela Casa, recentemente ocupada, falando de memória, por Alice Ruiz, Valéria Tarelho e outras poetisas que têm o que dizer.

Detalhe importante: Baco tem lugar muito restrito na rotina desses camaradas que eu citei. São todos caras comedidos. Nada daquela coisa de se propor que alegria/ ou criação dependem de festas e brindes. Gostam de festa, mas sabem [e fazem] seus trabalhos como zelosos cumpridores de um dever/prazer que a Vocação os compele a levar adiante. Naturalmente. De cara limpa. E não enchem a cara depois também.

Agradecimentos a esses camaradas e a Carol, namorada do Felipe, pelas boas conversas e pelo clima do encontro. Carol era a caçula de nós todos. 23 anos. Jovialidade e algum sarcasmo em simpático equilíbrio. A menina não toma nenhuma bebida alcoólica, nem ingere droga.



Marcelo Ariel, Flávio Viegas Amoreira, Felipe Stefani e Marcelo Novaes.

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Na minha postagem antidroga [que é o mote proposto para esse dia 26, encabeçado pelo blog CD- Lado B, de Bea M. Moura] uno o útil ao agradável, citando as possibilidades do encontro [e da criação] “de cara limpa”.


Marcelo Novaes

Texto originalmente postado no blog: http://notaderodape-marcelo-novaes.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Lançamento: O Corpo Possível de Felipe Stefani


Dia 25 de Junho, as 20h30, na Casa das Rosas em SP, lançarei meu livro "O Corpo Possível" pela editora Dulcinéia Catadora. O livro conta com desenhos e um longo poema meu. Espero a todos, depois tomamos um café.
As 19 horas, antes do lançamento do meu livro, mesa de discussão com o tema "Arte e práticas de ação cultural", com Cristina Freire, professora e curadora do MAC-USP; Monica Nador, artista plástica fundadora do Jamac e Lúcia Rosa, representando o coletivo Dulcinéia Catadora. Também estarei lá, apareçam.

Felipe Stefani.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Malabarismos Juvenis.


Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.

Na oblíqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.

Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silêncio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.

Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.

Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.





A noite levou-me qual ébrio furacão dentro do sono a casa o perfume nada sabia do silêncio unânime levava o vinho a janela do quarto negro negro minha treva me chamava madame colocava gelo no copo ah caminho vegetal de tentações mesquinhas na manha abri as asas na revolta de um insone o vôo sobre a cidade a cidade a cidade a chaga imediata dos vícios deixei-a entorpecida pálpebra negra enquanto o sol faiscava uma loucura unânime migrei para as visões distantes a aurora e o beijo afundou-a até a doçura do sonho besta soberba no outro dia era um poeta






Como operário no alfabeto das horas,
cumpri o enorme grito do meu nome,
dentro das florestas extraordinárias
da inocência.
Após a cerimônia da manhã interior,
que nos queima as entranhas,
ao meio-dia lancei-me faiscante para fora
dessa treva cheia de planetas espelhados.
Sobre a tarde de repente, atravessando oceanos vivos,
estendiam-se platôs exteriores,
centros gravitacionais mais quentes que o abismo
do meu vôo.

E teu sexo trilhava o coração e a raiz
desta noite sufocada de luz.

É isso o amor?
Uma prisão esplêndida.
No dentro e no fora da elegante
demência que naufraga,
sei que toca as partes vivas e a morte
do enlace onde nasce a música.

E as estações nos moldam a chama
e a simetria,
até a luz além da luz da vida.



Poemas e Desenho de Felipe Stefani.
Mais Desenhos de Felipe Stefani: www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O caminho(Tao) e além


"Não te maravilhes de ter dito: Necessario vos é nascer de novo.
O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como pode ser isso?
Jesus respondeu: Se vos falei de coisas terrestres e não compreendes-te, como compreenderás se te falar das celestiais?"
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Conversação de Nicodemos com Jesus, do Evangelio Segundo João.
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Desenho: "Jesus em Samaria" de Felipe Stefani, de um caderno de apontamentos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Árvore


A Marcelo Ariel


os signos do silêncio
remexem na fundura interior da primavera

escuta
apenas

pela luz
no sonho anterior dos mortos
a escuridão
por traz
outra escuridão

dentro da voz tudo está sonhando

nem podes imaginar os sons primaveris
sem se destroçar inteiro

basta os ciclos
as fontes

nas noites sôfregas o céu se espelha em laminas mudas
então pergunta-te
existo?
e se existo sou uma flor monstruosa

há nuvens que começam na ceifa
a árvore
o tempo

basta o toque da água nos subterrâneos

e recebe os mortos

a primavera





Felipe Stefani, Itamambuca, Ubatuba, Junho de 2009.