sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Lobos, Madrugada.



Não te deites com a volúpia presa aos dentes,
se pretendes despertar os lobos.
Madrugada,
o uivo sonda teus ossos.
Alquimia não consiste em acalentar o orgulho.
Os lobos sabem farejar as sombras,
violetas e asteróides
não envolvem seus mundos.

Sutileza,
presa acidentada dos cálculos,
a cidade tem uma cegueira acelerada,
os lobos avançam,
teu quarto tem extremidades impossíveis.
A volúpia brota de ossos cegos,
onde a vida, com seus lábios violetas,
não penetra.

Tu, cadáver de ti mesma,
volúpia acidentada,
não penetres a alquimia com asteróides cegos.
Os lobos te envolvem, no lado mais sutil do orgulho.
Madrugada
tem acordes turvos.
Deitas-te à cama,
o edifício encravado na cidade
não supõe teus lobos extremos.
Com volúpia, não calcules a cegueira
sem supor teus uivos.

Brotam nas sombras,
brotam nas ruas,
em espaços turvos,
no sorriso das cifras.
Avançam a madrugada em que te deitas,
cadavérica.
Farejam e, ao farejar, te despertam,

tão inesperada como um asteróide.



Poema e Desenho de Felipe Stefani.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Vitral Gótico.



Caminhando
em uma cidade européia,
certa vez contemplei,
surpreendido, a luz de um vitral.

Que formas irrestritas
buscava naquelas cores?
Como se o homem e a catedral
fossem de Deus a mesma partitura,

como se a arquitetura
seguisse a mesma geometria
de uma alvorada mítica,
e eu também seguia

a mesma dança,
tentando compreender o jogo,
o que a mente arquiteta,
mas nunca alcança,

como se o vidro recortado
buscasse o mesmo encaixe
na mão da obra primitiva,
que é maior, bem maior que a vida.



Felipe Stefani.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

VERSO CONTROVERSO


Em homenagem a Tristan Corbiére

Sou exímio pintor
que pinta sem traço
e sem cor

Cantor
que sonhou ser poeta
para esculpir um desenho
com muito engenho.

Ator do mundo,
dançarino mudo
que toca o sino e o desatino
do silêncio.

Artista, sim,
com certo ego,
mas não egoísta.

Com a virtude
de ser rude
e saudável
como um enfermo.

Enfim,
um homem sem termo.

André Setti

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Para Iniciar um Novo Ciclo



Para iniciar 2009, continuando a série de poemas com insipiração greco-latina, dois poemas inspirados em versos rearranjados e retrabalhados de Horácio Flaco.


Amarei livremente a mais bela diva
de cabelos soltos e rosto ambíguo,
cantada na lira ou na sonora flauta.

Se a aldeia estiver em festa,
instruído em doces ritmos,
amarei-a nos vales líricos
com a cítara das estrelas.

André Setti





Para onde me arrebatas, Baco?
Contigo, sou o rei dos persas.

Para onde me arrebatas, Baco?
Tu aplicas suave violência
ao engenho mais louco.

Por que não bebemos,
estendidos assim, ao acaso,
sob o alto plátano
ou sob este pinheiro?

André Setti