domingo, 28 de dezembro de 2008

Ciclos Cósmicos.


Como é ano novo e isso nos faz pensar na passagem do tempo, sugiro um texto de Rene Guenon sobre os ciclos cósmicos, em espanhol, neste link: http://www.reneguenon.net/guenontextosciclosEsp.html

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Para o Natal...


A água fria murmura através dos ramos
das macieiras; toda a terra está sob a sombra
das roseiras; e das folhagens a estremecer
escorre o sono.


Safo-tradução de Frederico Lourenço.


Pintura: Claude Monet - The Artist's Garden at Giverny, 1900, Musee d'Orsay, Paris

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Um Texto de Megumi Yuasa.


Imagem: Hokusai Katushika


Será mágica especular que em sua diáfana identidade recria imagem fiel e contrária como sombra inseparável, veloz,íntima e simultânea?

Representação da imaginária poética ou objeto enganador?

Talvez uma das emergências do oculto não escolhido, mas simplesmente aceito porque imponderável, quase sempre desconhecido e improvável, pelo menos invisível, que descreve o mistério insistente, leve, genuíno, silencioso e discreto.
O que é!

O Visível e o Invisível se complementam com o Real e seu Outro. Só significam em sua completude, sendo entendido em parte pela persistência do enigma.



Megumi Yuasa é artista-plástico e poeta.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Nova Leva da Revista "Diversos Afins".

Acaba de entrar no ar a nova leva da Revista Diversos Afins com desenhos de Felipe Stefani. Vale muito a pena conhecer essa revista de alto bom gosto artístico e seriedade. É uma rara e deliciosa exceção na internet. Confiram nesse link: http://www.diversos-afins.blogspot.com/

As letras da lua apagando a chuva...


As letras da lua apagando a chuva
(sei que, a dormir, ela cria uma clareira).
Com as letras encantadas eu dormia.
Então a lua aflorava
as estrelas, em raízes vivas, vivas como as águas.

Chovia, e a cítara lunar batia na calçada,
onde os pés dormiam.
Lembro que a geada te entreabria,
acordada, repartida, abria as letras
enquanto passavas.
Lembro-te assim,
escutando as partes da geada,
onde as vozes das águas batiam contra os passos.

Repentinas, abriam as letras do teu rosto.
Era o rosto que brilhava nas cítaras lunares,
como o corpo da música da geada,
dormindo nas águas.

Era como me lembro,
dormindo enquanto uma clareira te escutava,
a lua apagando os passos do vento,
teu nome ao lado das pedras molhadas
da calçada, aflorando as letras do esquecimento.



Desenho e Poema de Felipe Sstefani.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A Via Simbólica.


Pietro Perugino. Apollo and Marsyas. Oil on wood. Louvre, Paris, France.


"O poeta, o artista, em poucas palavras, são capazes de transmitir um estado de alma, que um psicólogo, em termos racionais, precisaria páginas e páginas para descrever, sem alcançar certamente o seu objectivo. Em todos os tempos, a linguagem das religiões é uma linguagem poética, por que elas falam à razão, mas sempre através do coração, onde muitas vezes permanecem, sem poderem ir mais adiante.

Esse "irracional", que os símbolos traduzem, possui raízes tão profundas na alma humana, que em todos os momentos da história, naqueles decisivos momentos da história, foi preciso apelar para ele, afim de que os homens seguissem um rumo, ou se obstinassem na defesa de uma posição.

É uma melancólica e bem magra pretensão desejar-se cortar para sempre essa raiz, a fim de que o homem fosse assistido apenas pelos conceitos racionais, meras generalidades. E assim como a flor, arrancada de seu galho, murcha, também o homem não poderia transformar-se numa mera maquina de pensar..."


Mário Ferreira dos Santos em "Tratado de Simbólica"

Capitu: alto padrão global.


Michel Melamed como Dom Casmurro em Capitu.

Por Flávio Viegas Amoreira

Não esperava tecer adjetivos benevolentes à TV: a Internet sepultou o grande apelo que a telinha tinha 20 anos atrás. A informação ágil do computador, a leitura aprofundada e o cinema só seguram um pós-moderno para conteúdos sofisticados: cult-movies, documentários ou debates instigantes. Não vejo TV: pinço raros conteúdos. Capitu de Luiz Fernando Carvalho rendeu alguma polêmica entre intelectuais, mas foi rejeitada pela massa despreparada e pela burguesia inculta (em sua maior parte) brasileira. A Globo sai redimida do nefasto BBB e das "malhações" vespertinas. Capitu inseriu a transmodernidade no suporte televisivo: experimentação sofisticadíssima, parodia e pastiche luxuosos, transposição digna de Moulin Rougeou Maria Antonieta, clássicos desse modelo de "mix" entre pop e erudito, mundano e clássico, alternando efeitos de videoclipes com toques operísticos: além do não-naturalismo dramatúrgico, como se o demiurgo da trama fosse um DJ de sons e letras antenadíssimo.

Não só o suposto adultério, mas o "ethos" brasileiro e nossas mazelas foram plasticamente desconstruídas. Bentinho é ruína revista: ambigüidade pura. "A Vida é uma ópera e uma grande ópera. O destino não é só dramaturgo, é também o seu próprio contra-regra. Que se perde em experimentar? Experimentemos". Esses trechos do Casmurro justificam o entusiasmo com essa possibilidade de inovação e vanguardismo na releitura de Machado e qualquer clássico nacional levado como minissérie: se os jovens desconhecem Machado e nem jornais mais lêem, o audiovisual pode ser "porta de entrada" para quem sabe algum interesse cultural. Rock da melhor qualidade, fidelidade ao texto machadiano, requinte de Visconti com exageros deliciosamente "fellinianos", Capitu evoluiu introduzindo um dos mais preparados e versáteis atores brasileiros: Michel Melamed, amigo e colega de geração literária, um Bentinho revolucionário com toda carga que só círculo restrito da Alta Literatura fornece a interpretes desse porte. Quando penso em Melamed evoco conselho de Marília Pêra aos jovens atores: "leiam! leiam!".

Aos que acharam absurda, ininteligível, pretensiosa ou bizarra adaptação do Casmurro, - corroboro visão de Bia Abramo: "Luiz Fernando Carvalho chegou a obra admirável. Continua difícil, por mais que as referências pop queiram forçar um apelo jovem. A beleza é mesmo difícil". Chegamos a um estágio de idiotização que toda Arte de invenção ou criação não-linear tornam-se "difíceis", herméticas: Capitu deve ter desagradado os acomodados com biografias lacrimosas (Piaf) ou com musicais medíocres (Evita): a pieguice e a futilidade andam quase sempre juntas.

Debussy, Tchaikovsky, cinema mudo, fragmentos e recortes atemporais na batida eletrônica da cyber-esfera fazem de Capitu primeiro clássico televisivo do século XXI. Umberto Eco pode explicar Capitu em Apocalípticos e Integrados quando distingue "cultura de proposta" com "cultura de entretenimento", assim como Melamed em Regurgitofagia propõe "a descoisificação do Homem através da consciência crítica". Conselho para todas as crises pós-2008: criatividade para estarmos altura de grandes respostas. A mediocridade pode ser pior que a ignorância: Luiz Fernando Carvalho fez desafio em horário nobre a ambas. Machado aprovaria: o mundo pede ser visto alto, profundo e alucinadamente.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sincronismo ou o que?


Uma coisa me impressionou nessa foto que tirei com o poeta Marcelo Ariel para a entrevista que cedi a ele. Os dois relógios da foto estão sincronizados na mesma hora, sendo que o antigo esta parado, e não fomos nós que os sincronizamos. Ainda levando em conta que era meia noite e dez, é de arrepiar. Isso dava um conto do Edgar Allan Poe. Não é a primeira vez que acontece coisa do tipo quando o Ariel está presente.


Felipe Stefani.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Novos Poemas Gregos

Outro poema "greco-latino", agora em nova roupagem.

Vou-me embora para Atenas.
Lá, sou amigo das musas.
Tenho o vinho que quero e as músicas.

André Setti

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pensamento do dia

Hoje não colocarei aqui nenhum poema, mas um pensamento que tive há alguns meses, no meio de uma balada, observando as roupas ridículas do pessoal.
Aí vai ele:

Às vezes, numa sociedade humana, a degradação estética me parece ainda mais preocupante que a degradação moral, pois é um indício de que esta ocorreu há algum tempo e vem apenas se aprofundando desde então.

André Setti

PS - comentem, comentem... Obrigado aos comentários anteriores, em especial ao comentário de Rhode Ramos. Eu que agradeço, moça.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Canção do Outono.’’


O inesperado é que o outono encerre
com seus prelúdios
a música sonhada na distância das barcas.

As estações caminham e com elas o encanto,
com seu império,
cantando,
a memória do mar,
a celebração sublime dos mistérios.

Colhendo a lentidão do sol
Setembro me trará mais um ano,
nos portos, nos acordes antigos
e se possível cantarei seus frutos.

Mas o outono se encerra e é tão inesperado
esse amor pelo sol e o sorriso do tempo.
A voz do homem beijou a luz desse Deus imenso.


Poema e desenho de Felipe Stefani.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meditação.


No filme “Metrópolis”(1927),de Fritz Lang, uma cena em especial me provocou meditação. Quando o protagonista vê a fabrica abrir sua boca e se transformar em um monstro, um Moloch, devorando os operários, a magia consiste em transformar em uma imagem expressionista, aquilo que se passa como processo psíquico na mente do personagem. A realidade já era por si só dura e dramática, mas algumas pessoas tem a capacidade de se sensibilizar mais que outras, de se horrorizar mais. No filme isso foi representado por uma visão, a imagem do Moloch. Outro dia estava dirigindo na Marginal, em São Paulo, num dia de chuva, caótico, com bastante transito, pensei nisso. Para alguns essa imagem, cheia de carros, fumaça, confusão, ansiedade, é bem mais tolerável. Para mim, talvez eu enxergasse algo mais ali, uma imagem mais opressora.
As maiores tragédias, sejam talvez quando a opressão é tanta, que somos privados até mesmo do direito de nos sensibilizar, onde o homem perde toda sua liberdade e referencias. Me refiro ao Holocausto e todas as barbaridades feitas por ditaduras, como a do Stalin e do Mao Tse Tung, por exemplo. Em uma época com tão poucas alternativas políticas como a que vivemos, essa meditação é necessária.




Felipe Stefani.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Novos Poemas Gregos


CARPE DIEM

Pois vida é breve, bebe os dias,
Colhe, nos altares do vinho,
As horas fugitivas da festa.

Bebe navegando o instinto,
O vinho é a lira do mundo,
Onde a musa e a música principiam,
Na dança gloriosa dos sentidos.

Bebe e te embriaga,
Que a peleja se aproxima,
O vinho aflições dissipa,
Celebra a doce alegria,
Honra Baco nesta vida,
Canta, e ama, e te embriaga,
Pois vasto é o retiro.

André Setti


PS - com alguns versos recriados (quatro ou cinco, se bem me recordo) de Alceu e Anacreonte.

Comentários são sempre bem-vindos! Quero saber qual a sensação que este tipo de poema causa nos leitores.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Composição.

O post anterior me deu a ideia de fazer uma composição com pinturas de diferentes épocas, mas com alguma relação entre si. Espero que gostem:


Paul Cezanne, Chateau Noir, 1904-06. Oil on canvas, 29" x 36."

Kazimir Malevich, Suprematist Composition: White on White, 1918. Oil on canvas, 31" x 31."


Morris Louis, Claustral, 1961. Oil on canvas, 85" x 65."

Josef Albers, Homage to the Square: On an Early Sky, 1964. Oil on hardboard, 48" x 48."


Felipe Stefani.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pontes da Arte.


Biblioteca Medicea Laurenziana, projeto de Michelangelo; Florença.

Mark Rothko, Orange and Yellow, 1956.

Após visitar a Biblioteca Medicea Laurenziana, em Florença, Mark Rothko ficou profundamente influenciado pelas “janelas para o nada” projetadas por Michelangelo. São elas que aparecem em quase toda sua obra posterior. Isso mostra como o passado pode estar sempre presente na arte. Rocthko, um artista moderno (ou pós-moderno se preferirem) influenciado por um renascentista que por sua vez foi influenciado pela arte greco-romana. Porém existe ainda uma outra tradição, que foi abandonada na renascença, que é a tradição da arte simbólica, onde a arte representava os símbolos religiosos e metafísicos. Será que um dia voltaremos a compreender o significado e a beleza da simbologia metafísica, e arte voltara a ser influenciada por seus símbolos?

Pintura Medieval.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

POEMA MÍSTICO.


Repentino,
Na clareira vulcânica da idade,
Concebi assim a leitura da memória;
De que tudo que desata, cresce e morre
Tem um gesto,
Um gesto de princípio.

Deveríamos chamar "ritmo"
Tudo que nos torna exaltados.

Somos tentados a ver dentro do sonho,
Assim nos recriamos do que nos causa escândalo,
Nomeamos a noite, a tarde e a manhã dos tempos,
Como fôssemos deuses.

Somos ritmo do sonho,
Lembrando, vagando,
No fim de cada era,
Causando escândalo.

Vede as estrelas,
Os frutos das figueiras,
O templo,
Furiosamente serão lembrados.
Viveremos disso,
Dando ao mundo
Um nome de batismo.

Chamaremos "inspiração"
Tudo que concentra,
Avança e se enraíza.

Impérios definham.
Somos tentados a dizer que foi um sonho,
Um sonho dentro do sonho,
Se concebêssemos tal geometria.

Pois também se lavram as terras antigas.
Vede, as águas calmas
São também colhidas.

O sonho não é sonho,
A memória não é memória.

Há sempre um Deus a redizer a história.




Poema e desenho de Felipe Stefani.