sexta-feira, 27 de junho de 2008

Poemas e Desenhos de Sandra Lagua.

É com honra que apresento essa designer e artista plástica. Tem muito talento em diversas formas de expressão, além das aquarelas e desenhos extraordinários, também é escultora e designer de jóias, aliando senso estético e técnica apurada. Me faz lembrar, por esse aspecto, alguns renascentistas. Já merecia mais reconhecimento. Por conta da amplidão de sua obra terá de ser apresentada aos poucos por aqui. Em outros posts pretendo também mostrar suas aquarelas e esculturas. Seguem abaixo dois poemas e dois desenhos:


ODE A SÃO PAULO


Tarde de inverno...
Era tudo tão lindo naquela tarde.
O avião piscando as luzes para o pouso,
A visão do monumento, imponente como um falo.

A silhueta do edifício..., o delírio..., o sonho...
Tomaram conta de mim.
Ah essa febre urbana louca.
Parecia para mim tão linda a visão de pedra e asfalto.

O semáforo, fechado,
transbordava no vermelho do por do sol.
Naquela tarde de inverno delirante
se esvaindo numa febre urbana.


DA GAIVOTA


Cedo naquela manhã, fui subitamente tomada por um forte sentimento trágico.

Não é novidade!

O trágico tem me acompanhado pela vida, mas nessa manhã era diferente.

Não sei se envolvida pelos dramas pessoais dos personagens de Tchekov, que haviam me provocado profunda impressão,

se influenciada pelo trágico coletivo ou se, impregnada pelos meus próprios dramas íntimos, agravados por uma situação de vida opressiva.

***

Mais desenhos da artista neste link: http://www.pbase.com/sodesenho/sandra_lagua

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Matthias Grünewald.

Matthias Grünewald era um dos pintores favoritos de Candido Portinari. Tem uma história bonita: por ocasião da visita do pintor brasileiro à Madri, ele foi ao Museu do Prado para ver essa pintura de Grünewald, A Crucificação. Ao chegar o guarda lhe avisou que o museu já havia fechado, então ele foi até a entrada e ficou, por um longo tempo, observando o quadro pela fresta da porta. Aconselho, a todos conhecerem a obra desse pintor. Uma pequena introdução pode ser feita nestes links: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/grunewald/

http://www.abcgallery.com/G/grunewald/grunewald.html

http://www.artcyclopedia.com/artists/grunewald_matthias.html

Felipe Stefani.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cinema: O Sacrificio de Tarkovscky.

Assisti nesse fim de semana ao filme "O Sacrifício" do diretor russo Tarkovscky. O filme, gravado na Suécia em 1986, é o último do diretor que morreu pouco tempo depois, e é talvez o seu filme mais tocante. É uma espécie de poema místico, a fé do personagem tece a teia do enredo. Como um poema, é daqueles bem estruturados, onde a perfeição de sua estrutura potencializa seu mistério. Ele nos leva a uma meditação sobre a beleza e o enigma da arte e da civilização, assim como de nós mesmos. O final, apesar de toda a gravidade da história, me parece iluminado e esperançoso. Não sei se é possível apreciá-lo sem o olhar do misticismo e da poesia. A tela de Leonardo da Vinci parece se expandir em todo filme.


Felipe Stefani

quarta-feira, 18 de junho de 2008

De um Extremo a Outro.

Catedral de Viena

Habitação coletiva, Berlim. Peter Eisenman

Quanta diferença entre a Arquitetura Gótica Medieval e a do arquiteto contemporâneo Peter Eisenman. Uma, arraigada nas tradições místicas medievais tal como a maçonaria, é simétrica e religiosa. A outra é pós-moderna, com forte influencia dos filósofos desconstrutivistas. Eu gosto da arquitetura de Eisenman, embora não me identifique com os filósofos que o influenciam. Sou muito contraditório? Bom, pela arquitetura Gótica tenho profunda admiração, embora não seja maçônico. Acho que é possível identificar-se esteticamente com uma obra de arte, sem necessariamente concordar com o embasamento filosófico que subjaz a ela. A questão que quero colocar aqui é: será possível unir essas duas formas de arquitetura?
Penso isso de forma subjetiva e não do ponto de vista de uma mistura maneirista, como em algumas correntes pós-modernas que revisitaram o classicismo.
Um exemplo interessante é a instalação de Eisenman , abaixo, junto a um castelo medieval.
Geralmente as instalações não me chamam a atenção, mas neste caso gostei.


Instalação de Peter Eisenman no jardim do Museo Castelvecchio em Verona.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Composição.

A arte imitando a vida ou a vida imitando a arte?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Três poemas de Felipe Stefani.

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Sempre que vejo crianças,
Vejo-as correndo, movendo o tempo,
Todas misturadas ao vento.
Sempre me aproximo, são quentes e velozes,
Tão acostumadas aos meteoros,
Dentro da cabeça, todas correndo
No tempo.

Lembro das horas tristes da infância.
A vela que queimava a escuridão.
Tive medo, o abismo do quarto,
Tão negro, misturado no tempo.
Quando anunciavam o dia,
O leite quente com biscoito,
Os meteoros para fora,
Correndo, todos movendo a aurora.
Eu me lembro.

Sempre que vejo crianças,
Vejo-as escritas por dentro.
Todas elásticas,
por dentro e por fora,
tão velozes que sinto medo,
repetindo minha voz primaria
inúmeras vezes até que me lembre,
como mover o ar correndo.
Os meteoros na cabeça,
Sempre que vejo crianças,
Absorvidas em seus córregos quentes.
Onde movem a água,
Voam e correm como meteoros.
Depois do leite a risada,
Como um templo,
Brincava com meus avós.

O menino vendendo balas na praça
Me faz dar rodopios por dentro,
Meteóricos,
Contemplo-me num trabalho radioso,
Carpindo as partes doces e ocultas
Da memória.
No ar, no vento,
Na respiração.
Busco uma criança
Como um brusco cata-vento,
Veloz, extrema
E a anterior a noite.

As crianças se deitam com medo
Do silencio.
Cada casa tem uma criança na imaginação.



***


A noite levou-me qual ébrio furacão dentro do sono a casa o perfume nada sabia do silencio unânime levava o vinho a janela do quarto negro negro minha treva me chamava madame colocava gelo no copo ah caminho vegetal de tentações mesquinhas na manha abri as asas na revolta de um insone o vôo sobre a cidade a cidade a cidade a chaga imediata dos vícios deixei-a entorpecida pálpebra negra enquanto o sol faiscava uma loucura unânime migrei para as visões distantes a aurora e o beijo afundou-a até a doçura do sonho besta soberba no outro dia era um poeta



***



O CARPINTEIRO
A Celestino Lagua


Não quis ser ninguém.
Almejei, nesta manha de inverno,
Ter nascido com o nome eterno.
Seguem-me, mas não me tocam
Na hora mais remota.
Minha flauta é a flauta dos que sonham,
Desconheço a ovelha que foge do rebanho.

Sou carpinteiro das montanhas antigas,
Devo esquecer meu nome verdadeiro,
Os montes são vastos e nunca os abandono.
Ouvi dizer das cidades onde é feita a ciência,
Mas minha flauta é a flauta verdadeira,
De quem nada deseja de um nome
E dorme sob as figueiras
E perde suas ovelhas.



***




Mais poemas do autor nesses links: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2978

http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2443

http://www.revistazunai.com.br/poemas/felipe_stefani.htm

http://revistamalagueta.com/poemas9/poema-mistico

http://revistamalagueta.com/poemas6/fabula-do-peregrino

http://www.meiotom.art.br/stefanipo.htm

Alguns de seus desenhos aqui: http://www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani