segunda-feira, 3 de março de 2008

2 Poemas de André Setti

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Somos poetas inocentes na imensidão sonora do mundo, poemas que se fazem com sonhos que ainda não tivemos, nem teremos, nem sonhamos em sonhar, por isso são sonhos infindos, alicerces da palavra impossível, que jamais diremos. Com esta palavra nosso poema é feito, e não é nosso, e não é do mundo, e não é possível. Com este sonho, com esta palavra, com este silêncio encantado fazemos nosso poema, e o que fazemos não é poema, e não paramos de sonhar, pois somos impossíveis, e enfim o que temos são palavras inocentes na imensidão sonora do mundo.

André Setti







Logo cedo, no final da noite,
Não posso possuir os percalços de meu rosto,
Cunhá-los para além da esfera do razoável,
Após o jogo, nas torres de Marselha,
Reconstruir não apenas o poema de meu ser cansado,
Mas o poema sonhado,
O poema de minha outra vida,
Paralela e fugitiva,
Nas torres confusas de Marselha sangrando,
Descer as escadarias centenárias
E fazer compras no centro,
Tudo isso, percalços,
Não posso reconstruir no sonho
Meus passos na estrada do razoável,
Os jogos de domingo,
Os grandes prêmios,
Tudo isso, percalços,
Sou estrangeiro cansado,
Porém em meus passos
Penso possuir meu rosto fugitivo,
E me deparo, no final da estrada,
Com o final do tempo
Em meus próprios sonhos,
São precários, claramente,
Um homem me diz as horas
E não importa,
Sei apenas
Reconstruir o poema
Em interrogação.

André Setti

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