domingo, 12 de dezembro de 2010

MANHÃ NA PRAÇA




Vejo as crianças na praça,
invisíveis.
Constroem sem dedos
leves canais de força.

Dentro de Deus as crianças
lavram seus cometas
e correm.

Que som intacto
na bucólica discrepância dos dias?
Que extrema melodia
passa ao largo da vida?

Mulheres sonham o ar
cheio de grutas,
sobem nas crateras da manhã
varadas por espelhos.

Em volta delas
penso uma massa de demência,
hipnotizo a cegueira.

As árvores estáticas
humanizam o tempo,
esquecem de Deus
em seus cometas invisíveis.

Alguns jogam xadrez
nas crateras violentas do silêncio,
contra os espelhos da demência.
Esquecem a vida.

Que som intacto passa ao largo?
Que extrema melodia?









***

Felipe Stefani, Santos 2010.

3 comentários:

Pupila disse...

Felipe,
lentes do olhar
que permeiam nossa percepção:
e vejo, e sinto...
loucura?
delírios poéticos...
Adorei!beijos poéticos

José Carlos Brandão disse...

Sim, a sua poesia tem uma extrema melodia. Perturbadora.
Abraços.

sérgio disse...

Crianças são como passarinhos, que tecem seus voos no azul, nas nuvens, entre árvores...
entrecortam
recortam e riem...
E assim brincam despreocupadas com o peso arquitetado dos homens sérios.