sexta-feira, 26 de junho de 2009

O poeta Marcelo Novaes escreve sobre o lançamento do livro de Felipe Stefani na Casas das Rosas

Casa da Rosas




Estive ontem na Casa das Rosas para o lançamento do livro “O Corpo Possível” de Felipe Stefani. Ambiente camarada. Felipe me deu a oportunidade de conhecer e apertar as mãos do ceramista e escultor Megumi Yuasa. Se o leitor nem imagina de quem se trata, vai uma palhinha, extraída do site cultural do Itaú:Yuasa, Megumi (1938)



"Megumi Yuasa (São Paulo, 1938) é o mais refinado ceramista do Brasil. Mais do que isso, Megumi é um dos melhores escultores do país dos últimos vinte anos. A sua obra é uma oportunidade para a reflexão e é uma possibilidade de nos impregnarmos do delicado prazer que só a forma artística de alta concepção pode proporcionar. O trabalho de Megumi Yuasa destaca-se pela capacidade na elaboração de formas sutis, de relações harmoniosas e, paradoxalmente, inesperadas. A origem da concepção dessas formas é orgânica, o que explica o arredondado, a semelhança com partes reconhecíveis de vegetais e de corpos, as curvas sinuosas. A harmonia vem dessa origem e da possibilidade infinita de ajustamento de partes redondas".Jacob KlintowitzKLINTOWITZ, Jacob. O ofício da arte: a escultura. São Paulo: Sesc, 1988. p. 141.Megumi Yuasa







Escultura de Megumi Yuasa, Foto: Felipe Stefani




Megumi é um cara sólido. Gentilmente sólido. Um artista com todos os melhores traços de sua ancestralidade nipônica: gentil, atento, solícito. Eu observava o Felipe assinando autógrafos, com uma parcimônia (ou lerdeza) que lembraria a de um monge Zen, não fosse o rubor na face, a denunciar-lhe a timidez. Felipe é pacífico e pacifista n”O Possível que o Corpo lhe permite ser”. Não aparenta carregar as “tensões típicas” de um poeta. Não traz o semblante conflitado, nem modos afetados, longe disso. Felipe tem o “look” de um surfista, o que também é. Pinta e desenha com espantosa fluidez e velocidade. Congrega amigos, faz questão das interações, e não o faz como mestre-de-cerimônias [aliás, sem cerimônia alguma]: apresenta e deixa que nós, apresentados, nos entendamos. Não centraliza o meio de campo. Não fica distribuindo a bola [e centralizando o jogo]. Apresenta. E calmamente assiste ao jogo, dentro do próprio campo, dando seus toques quando acha que deve dar. Foi assim na pizzaria para onde fomos [alguns de nós] após o lançamento.

Ali, ganhei o “Teatro das Horas” do bom poeta André Setti. É uma geração da casa dos trinta anos. Eu era o “tiozão” da mesa, já perto dos cinquenta. A posição não era nada desconfortável, muito menos patética. Isso por se tratar de gente interessada, estudiosa, comprometida. Mas também descontraída. E Felipe faz a ponte com gente de todas as artes e gerações, como no caso de me apresentar Megumi. Marcelo Ariel também estava lá. É da casa dos quarenta, o poeta e multi-performer. Conhece gente de todas as tribos e áreas. Seria uma espécie de “interlocutor oficial inter-disciplinas estéticas” da minha geração [a literatura cabendo aí, sem nenhuma auto-suficiência, e dialogando com o Teatro e o Cinema o tempo todo, além da Filosofia], independente de ocupar as mídias oficiais pelas bordas, pelo acostamento da via principal. É por aí: o lugar fora do alcance do confisco. Ou do sequestro. Ariel [anjo negro que é] não se permite ser sequestrado em seu labor frenético. Faz curtas, peças, textos, edita livros. E me contou que está para abrir mais um blog. Na quinta da semana que vem, estará lançando trabalho seu na Casa das Rosas. Ou fazendo leituras. Ou performances. Ou algo assim. E sempre há alguma coisa boa naquela Casa, recentemente ocupada, falando de memória, por Alice Ruiz, Valéria Tarelho e outras poetisas que têm o que dizer.

Detalhe importante: Baco tem lugar muito restrito na rotina desses camaradas que eu citei. São todos caras comedidos. Nada daquela coisa de se propor que alegria/ ou criação dependem de festas e brindes. Gostam de festa, mas sabem [e fazem] seus trabalhos como zelosos cumpridores de um dever/prazer que a Vocação os compele a levar adiante. Naturalmente. De cara limpa. E não enchem a cara depois também.

Agradecimentos a esses camaradas e a Carol, namorada do Felipe, pelas boas conversas e pelo clima do encontro. Carol era a caçula de nós todos. 23 anos. Jovialidade e algum sarcasmo em simpático equilíbrio. A menina não toma nenhuma bebida alcoólica, nem ingere droga.



Marcelo Ariel, Flávio Viegas Amoreira, Felipe Stefani e Marcelo Novaes.

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Na minha postagem antidroga [que é o mote proposto para esse dia 26, encabeçado pelo blog CD- Lado B, de Bea M. Moura] uno o útil ao agradável, citando as possibilidades do encontro [e da criação] “de cara limpa”.


Marcelo Novaes

Texto originalmente postado no blog: http://notaderodape-marcelo-novaes.blogspot.com/

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