sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Poemas e Desenhos de Felipe Stefani.


Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.

Na obliqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.

Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silencio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.

Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.

Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.





Não te deites com a volúpia presa aos dentes,
se pretendes despertar os lobos.

Madrugada,
o uivo sonda seus ossos.

Alquimia não consiste em acalentar o orgulho.
Os lobos sabem farejar as sombras,
violetas e asteróides,
não envolvem seus mundos.

Sutileza,
presa acidentada dos cálculos,
a cidade tem uma cegueira acelerada,
os lobos avançam,
teu quarto tem extremidades impossíveis.

A volúpia brota de ossos cegos,
onde a vida, com seus lábios violetas,
não penetra.

Tu, cadáver de si mesma,
volúpia acidentada,
não penetre a alquimia com asteróides cegos.

Os lobos te envolvem, no lado mais sutil do orgulho.

Madrugada
tem acordes turvos.
Deitas-te a cama,
o edifício encravado na cidade
não supõe seus lobos extremos.

Com volúpia, não calcule a cegueira,
sem supor seus uivos.

Brotam nas sombras,
brotam nas ruas,
em espaços turvos,
no sorriso das cifras.
Avançam a madrugada em que te deitas
cadavérica,
farejam e ao farejar te despertam,

tão inesperada como um asteróide.


***
Mais poemas do autor nesses links: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2443

http://www.revistazunai.com.br/poemas/felipe_stefani.htm

http://revistamalagueta.com/edanteriores/06/poemas/fs.html

http://www.meiotom.art.br/stefanipo.htm

Mais desenhos do autor nesse link: http://www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani

4 comentários:

romulo de almeida portella disse...

li o dos malabarismos. nos versos finais e me surpreendi com sua presença, quieta , observadora meio a todo um cosmo.essa tua presença dá, numa simples menção, toda umaa posição espiritual...

romulo de almeida portella disse...

"...Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,...". este verso cria uma fusão toda especial com os versos começados com " eu vi". é a presença da lira( como já chamei tua atenção), e a lira ligada à visão apontada nos versos anteriores...

todo um cosmo triunfante, e crespuscular, então, se cria. e sua posição assinala a ti, diria com fisicalidade. fisicalidade que observa a outras fisicalidades numa comunhão verdadeiramente cósmica pela Visão oferecida...

romulo de almeida portella disse...

é um acontecimento este de corpos, meio que em incompletude e o vagar da visão com que constróes o poema. uma rosa inicial. um mistério, o mar e um desafio. a criação de cosmo a partir de uma vivência que constróe uma visão. este processo é fascinante, enigmático...

Anônimo disse...

Felipe:
Que bom ler você.
Parabéns!
Acabei de ouvir a Christina Carvalho Pinto citar um trecho do GRande Sertão.Uma fala do Riobaldo que tem tudo a ver com vc:
" Agora vai ou vai"
Sucesso!
Ana