quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Colaborações: Maiara Gouveia

É com grande prazer que apresentamos dois poemas desta poeta (ou poetisa, como ela preferir) de versos crepusculares, fortes como uma travessia.
Maiara não é uma promessa, mas uma realidade poética. Seu blog (http://maiaragouveia.blogspot.com/) está entre os nossos favoritos, e recomendo deveras para uma visão mais ampla de sua obra.
André Setti



Besta Faminta

Corpo masculino: besta faminta.
Devora o milagre.
O néctar que derrama não sacia
a pele ávida.
Um anjo sente náusea.
Enquanto sugo o membro rijo: coluna sagrada.
A nudez agressiva esfola e esfola
e apanho na cara.
Gozo muito. No desespero de salvar a carne.
Sei que ressuscito. E sinto mágoa.

Maiara Gouveia






Virá o Dilúvio

Homens impotentes compram preservativos para o PC.
Mulheres de resina exibem os seios na propaganda.
Casas hialóides abrigam celebridades instantâneas.
Estabilizantes com açúcar alimentam a população.
Poetas são cães de lata. Não cantam. Mas sabem rosnar.
O campus fornece a ração de óleo contra ferrugem.
Sofrer é coisa (que se trata no divã).

A via de acesso ao mito está repleta de entulho.
Por isso os antigos seres vão desabar sem anúncio
nesse campo miserável do império do capital.

Maiara Gouveia

2 comentários:

maiara gouveia disse...

Oi André,
versos crepusculares? Amei. Obrigada. Houve alteração nos poemas, mas deixei um recadinho aos leitores do meu blog (& o convite para uma visitinha ao Cultuar. Abração, Mai.

Anônimo disse...

oi!

ah, que legal a postagem! muito bom e forte o primeiro poema. adorei.

tb sou visitante da certeza de fazer o mal.

beijinhos