terça-feira, 29 de março de 2011

Duas Visões do Outono.




Vi um estranho
atravessar a rua,
seu vulto seco
escurecia o mar.
Seus braços não moviam,
era o mundo de sombras,
o pendulo que sorvia
o lastro da agonia.

Tarde de chumbo,
as ondas
retraem
o tempo.

Estrangeiro,
como essa flor,
por ser perpétua,
presa ao perene.

Cada passo
é morrer
contra o céu.

A Deus,
o estranho sou eu.






a
senda
rasgada
navalha
palmas
cortadas
a
Deus

se
o
Sol
cega
seja
guia
entre
brumas
labirintos
mudez

véu





Poemas de Felipe Stefani. Fotografias de Nilton Leal



Mais fotografias de Nilton Leal nesse link: www.flickr.com/photos/niltonleal

sábado, 1 de janeiro de 2011

A Carlos Drummond de Andrade





Todo abismo está no ato,
sonhou o cantor do sono.

O mundo suporta teus ombros,
e eles não cabem nas mãos de um menino.

O breve é vasto,
diz o bailarino.

E não tenho dedos para tecer
dentro do corpo
os estigmas do vento,
a mudez das luas.

Vivemos da fome, da fuga,
do exílio.

O resto é a bruma
que resta do impossível.





***
Felipe Stefani, santos 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

I




O silêncio invade
as rotas da indagação.

Existo?

E as flautas do mar recobram o olvido.




II




E eu que amava o sonho dos pássaros,
dizia as vozes imprevisíveis
que dormiam no mar:

"Como posso sonhar,
se a exatidão em que navegam as aves
é maior que a própria vida?"

E as sombras do silêncio repetiam:

"É preciso cantar para invadir o segredo".





***

Felipe Stefani, Manly Beach, Austrália 2010.



.

domingo, 12 de dezembro de 2010

MANHÃ NA PRAÇA




Vejo as crianças na praça,
invisíveis.
Constroem sem dedos
leves canais de força.

Dentro de Deus as crianças
lavram seus cometas
e correm.

Que som intacto
na bucólica discrepância dos dias?
Que extrema melodia
passa ao largo da vida?

Mulheres sonham o ar
cheio de grutas,
sobem nas crateras da manhã
varadas por espelhos.

Em volta delas
penso uma massa de demência,
hipnotizo a cegueira.

As árvores estáticas
humanizam o tempo,
esquecem de Deus
em seus cometas invisíveis.

Alguns jogam xadrez
nas crateras violentas do silêncio,
contra os espelhos da demência.
Esquecem a vida.

Que som intacto passa ao largo?
Que extrema melodia?









***

Felipe Stefani, Santos 2010.

domingo, 5 de dezembro de 2010

I



Imagino através das cítaras.
Ouço pelo esquecimento.

Levanto.

Respiro.

Sei que o mundo é imenso.




II



Como são abruptos
os sinos mudos do outono.

Violento,
o rasgo anterior
de um grito inaudível.

Tudo é sono.

Pois tudo tende,
de uma forma secreta,
contra as lacunas abismais do esquecimento.






***

Felipe stefani, Santos 2010.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

NOTURNO


Nos estreitos breves
a arte íngreme
de ser,
frente as faces do mundo.

A margens se re-
dobram nas entranhas das luas.

As barcas sonham a distância das flautas.

Fendido ao tempo feito
um canal,
nos orifícios cegos do fôlego,
basta
aquilo que arrefece.

A inocência do mar submerge as cítaras.





***

Felipe Stefani, escrito da janela do apartamento. Santos, novembro 2010.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A CASA



A mesa, o sonho, a voz.
O transbordar das ruas em minha vida fechada,
ou tudo o que desliza no ventre da idéia,
ou meu tempo de muros cercando árvores secretas.

No outono é onde os teus olhos correm
pelo espaço dançarino do nosso pensamento,
pois pesam juntos os corpos que queimam as casas,
e o pão sobre a mesa.

Mesmo que os centauros da aurora
levantem em nossa guerra
o pecado anterior ao pecado original.

E então oh, minhas aves ébrias
que respiram a benevolência de tuas mãos.
Morrerei de uma tristeza indizível,

pois a carne de tua boca terna no ouro vivo dos meus lábios breves.

Ou morrerei pela inocência.
Repito: vida.








***

Felipe Stefani, primavera 2010.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Lançamento do meu livro "Verso Para Outro Sentido" em Sampa


Dia 25 de setembro lanço meu livro "Verso Para Outro Sentido" pela Escrituras Editora, livro que conta com poemas e desenhos meus. Cliquem na imagem a cima para ver o convite ampliado com os detalhes, data, hora, endereço, etc. Espero todos para uma conversa e depois umas cervejas, claro. Será uma oportunidade para conhecer os leitores desse blog, que são bem poucos, sei, mas especiais...
Até lá,
Felipe stefani