terça-feira, 30 de outubro de 2007

A Penny for a Poem

Nós, poetas, já nascemos pobres,
Porém, já nascemos livres...

E salve a MPB!

André Setti

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A Primeira Grecia

Lao Tse deixa a China rumo ao Ocidente

Foi com Anaximandro, na Asia Menor, que surgiu pela primeira vez o tipo de pensador que vai lidar com a totalidade do universo, não mais apenas seu nascimento pela ação dos deuses, como pensavam as antigas tradições, mas sim sua realidade própria, a natureza por si mesma.
Acredito que se deu aí a fonte do pensamento ocidental moderno. Para os antigos, tudo era a manifestação do não-manifestado, o que não deve ser confundido com o nada, já que o não-ser só existe a partir da perspectiva do ser, o manifestado. Para os gregos, depois de Anaximandro, a natureza aparece dotada de uma estrutura própria, independente das vicissitudes teogônicas e cosmogônicas.
Talvez por isso Aristóteles ia do ato à potência, do princípio às consequências, e assim é a metafísica, ao contrário da China antiga, por exemplo, que ia do ying ao yang, das conseqüências ao princípio, do inferior ao superior, como no desenvolvimento do processo cosmogônico, onde "no começo" está o caos, as trevas, e a luz está "depois das trevas". Mas esse assunto devo retomar em outra ocasião, aqui no blog.
Ao mesmo tempo que se deu essa mudança com Anaximandro, acontecia na China uma ramificação do saber tradicional entre o confusionismo e o taoísmo e, em outras civilizações, aconteceram coisas semelhantes no mesmo período. Isso remete à teoria cíclica do hinduísmo tradicional, na qual, quando um ciclo chega perto do seu fim, começa a espiritualidade a se ramificar e depois se perde.
Depois da segunda fase grega veio Roma, ainda menos tradicional e, enfim, o cristianismo deu início a um novo ciclo, que teve seu auge na Idade Média. É interessante lembrar que São Paulo disse que foi essa idade da razão (a Roma, menos tradicional a qual me referi) que abriu espaço para a concepção cristã.
Não sei se concordo com essa teoria cíclica (talvez a palavra teoria não seja a mais adequada para este caso), que, colocada dessa forma como expus, remete à idéia de uma união metafísica entre todas essas tradições e também a crença de que todas vieram de uma mesma tradição primordial.
Nem quero aqui dizer quem está certo ou quem está errado por ser este um assunto profundamente complexo. De qualquer forma, é importante poder enxergar a história também por um ponto de vista mais espiritual e não só com o olhar antropocêntrico da modernidade, que só entende as coisas através de seu único ponto de vista, como se o passado e os homens antigos fossem um reflexo ultrapassado de si mesmos.
Felipe Stefani

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Este blog é coletivo, e os assuntos são vários. Mas o fato é que somos poetas...
É uma pena, mas temos hoje apenas mais um poema...



Sou peixe delirante em código indecifrado, portanto não me peçam para apenas acender o fogo, pois o fogo, de fato, eu advinho, e a nascente é onde os peixes indecifrados fazem traçados delirantes por meio da cor e do espírito.
Porém, de fato, não sou peixe, mas um comício de recordações viventes e cada vez mais universais, controversas. Não sou um peixe, de fato, mas doze luas embriagadas sob as íntimas marés que me condenam, pois fazem de mim um palco, o palco, as incríveis trincheiras.

André Setti

domingo, 14 de outubro de 2007

Definições...


Algumas definições (sempre incompletas) sobre poesia. Pessoalmente, gosto mais da última. Mas a vida, como a poesia, sobrevive muito bem sem definições...

"O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar' - Charles Baudelaire

"O poema não é feito dessas letras que eu espeto como pregos, mas do branco que fica no papel' - Paul Claudel

"O poeta faz-se vendo através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos" - Arthur Rimbaud

"A solidão da poesia e do sonho tira-nos da nossa desoladora solidão" - Albert Béguin

"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas" - Federico Lorca

"A poesia não é nem pode ser lógica. A raiz da poesia assenta precisamente no absurdo" - José Hidalgo

-- "A poesia é um nexo entre dois mistérios: o do poeta e o do leitor" - Dámaso Alonso

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Monet, Sunrise


Cultuamos sonhos, versos, pinturas...
E você, o que cultua?
Se você escrevesse, agora, um poema, qual seria o primeiro (ou os primeiros) verso(s)?

Poema Místico

Felipe Stefani também deixa sua marca na abertura desse blog:


Repentino,
Na clareira vulcânica da idade,
Concebi assim a leitura da memória;
De que tudo que desata, cresce e morre
Tem um gesto,
Um gesto de princípio.

Deveríamos chamar "ritmo"
Tudo que nos torna exaltados.

Somos tentados a ver dentro do sonho,
Assim nos recriamos do que nos causa escândalo,
Nomeamos a noite, a tarde e a manhã dos tempos,
Como fôssemos deuses.

Somos ritmo do sonho,
Lembrando, vagando,
No fim de cada era,
Causando escândalo.

Vede as estrelas,
Os frutos das figueiras,
O templo,
Furiosamente serão lembrados.
Viveremos disso,
Dando ao mundo
Um nome de batismo.

Chamaremos "inspiração"
Tudo que concentra,
Avança e se enraíza.

Impérios definham.

Somos tentados a dizer que foi um sonho,
Um sonho dentro do sonho,
Se concebêssemos tal geometria.

Pois também se lavram as terras antigas.
Vede, as águas calmas
São também colhidas.

O sonho não é sonho,
A memória não é memória.

Há sempre um Deus a redizer a história.


Felipe Stefani

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Aqui Começamos...

Blog coletivo de Felipe Stefani, André Setti e Ribeiro Eiras.
Cultuaremos um pouco de tudo: versos, pinturas, sonhos, o que vier...
Coube a Eiras fazer o poema inaugural.


POEMA INAUGURAL

Havia uma linda ribeira.
Remava até o final da ribeira
e nada sentia
(apenas um nome devastado).

Vi que nada ali
me percebia.
Parecia-me varar
a carne das sombras,
o lago, suas lendas,
aboliam-me, à beira
do encantamento rude,
com meu nome espelhado.

"Farei o poema inaugural',
pois sou o poeta das vozes.
No entanto, navegava
esta ribeira muda
e me indagava,
às margens do nome,
e mendigava,
sei lá,
algum verso.

Ribeiro Eiras