segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As Mil e Uma Noites de Pasolini.


O Filme "As Mil e Uma Noites" (1974) de Pier Paolo Pasolini, me fez imaginar passeios por mundos antigos, místicos e poéticos, assim como também ele fez ao criar o roteiro. Lembrei do que disse Oscar Wilde "A tarefa do artista é criar o belo". Deixei conduzir a imaginação, apenas pelo o que é belo no filme. Nesses mundos imaginários e recompostos, vaguei como música, a compor novas paisagens...

Felipe Stefani.

Retrato do poeta Alexandre Bonafim, por Felipe Stefani.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Contemplação.


Honoré Daumier, Two Sculptors, sem data.


Théodore Chasséreau, The Tepidarium, 1853.

Théodere Chasséreau (1819-1856) e Honoré Daumier (1808-1879), são dois artistas de uma mesma época, mas que possuem muito aspectos diferentes entre suas obras. Nas formas quase abstratas das figuras de Damier vejo um eco do Barroco e um oráculo do que viria a seguir. Em Théodore vejo também um eco do Barroco e, além disso, vejo outras coisas, coisas invisíveis, que se estivesse com o véu do preconceito moderno, não veria. Não podemos chamar suas imagens de “realistas”, mas é porém o realismo aparente o que a torna mais enigmática, pois uma pintura nunca será completamente realista, sempre a algo que é peculiar a própria pintura. Um rosto muito arredondado, um homem amarelo, um corpo muito desproporcional, e ai que está a riqueza desta arte. Precisamos também reaprender a nos encantar com a beleza da temática romântica e de suas cenas, algo de que o ranço modernista nos apartou.

O minimalismo do séc.XX nos mostrou como ver o mais no menos, mas nas pinturas dos artistas românticos e neoclássicos, também podemos encontrar grandes enigmas em pequenos aspectos de suas telas, mas também concebê-los junto ao todo da composição, o que é muito mais rico.

Donald Tudd(1928-1994), Sem Titulo, 1990.

Felipe Stefani.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pequena Crônica, (Juventude).


Descemos a serra com as luzes da pequena Ubatuba sufocadas pelas montanhas.
Eram nostalgias, ondas de radio e subversões que varavam nosso espírito.
Você se lembra como pequenos universos eram cercados pela floresta?
Havia um forró brega, única diversão da cidade, onde caiçaras se acumulavam e nós nos misturávamos como música, música brega, devo dizer.
Se lembra da menina que você levou para casa? Tinha cabelos de relâmpago, me lembro.
Como era surfar? Eram boas as ondas que vinham do alto da arrebentação até se dissiparem nas margens da areia. Desenhávamos-las.
No século passado, os caras surfavam com madeirite. Viu aquela onda? Se lembra a extensão?
Jogávamos bola. Você ainda acredita no futebol? Os com mais fôlego duravam um dia inteiro. Depois testávamos as aptidões no mar: briga de galo, pirâmide humana, guerra na cachoeira. Concebíamos uma celebração.
Itamambuca me deu os corpos morenos, a rua de terra enraizada em meus pés.
Tinha uma discoteca incrustada na encosta que zombava das águas. As que freqüentávamos em São Paulo eram melhores, mas ondas sonoras zuniam no mar, como uma fábula.
Éramos extremos e dissonantes. Tínhamos as manhãs solares, de lá vieram os primeiros poemas, pois as manhãs eram frágeis com seu gesto dourado e suas ondas. Frágeis e esplêndidas. Nelas escrevi meus primeiros versos, ou nas ondas que desenhávamos, solares e dissonantes, como um zunido marítimo, como uma fábula.

Felipe Stefani.

Desenho do autor.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

MAR PRÓXIMO, texto de Flávio Viegas Amoreira.

George de la Tour, St. Sebastian with Lantern.


‘’ MAR PRÓXIMO’’


‘’ o mundo é muitos quando artesão das horas resgatando o Tempo exaurido / retardando o sentido

exorbitado das despedidas . a felicidade é uma cegueira da Morte : apalpa e segue a cruz estrangeira do abandono quando o universo padece verme dos meus destroços. depois aí é o que não pressinto o mergulho peremptório : crer é estabelecer dívida com o impensável : corte no procedimento das estrelas / eu ouço o gritos assustados do escuro na retidão do desenlace : a chuva cega por dentro / os que saem de mim são passageiros de algum pensamento já transcorrido. Nunca deixei de te amar pelo esquecimento do sentimento / o sentimento não tem passado nem marco fixo: transcorre de viver em nós a coisa e sobrevivemos até o fenecer do mar na aurora quando vejo palavras esboçando um dia que não mais estarei vivo para as coisas que serão então o instante / tento dizer o melhor aproximado dum significado / sabemos demais isso / não pensava noutra coisa antes de dizer palavra : escrevo o que já perdi ao dizer falando. Sinto solidão não estadia / pressentimento de estar fora do que tenho sido mesmo que não todo possível de ser . aqueles que tenho me socorrem da incerteza do Amor decisivo : desenlace / ele me enternece pela lembrança duma atmosfera / superfície ultrajada. Quis toca-la a Verdade / ela assentiría ao custo de sucumbir sob o peso da vacuidade sem propósito / ausente de Deus /não saberia pronunciar seu nome senão por escrito / nunca adormeci em sonho e finjo ser infeliz pelo que sei ser demais vertiginoso / simultaneidade ubíqua / estado de não ser o que componha cena ou fato /

tudo que não venha ao caso e uma nódoa precipitando-se em tudo que seja provisoriamente belo / que aparência tem as pessoas fora de suas ilhas revestindo a Alma de duplicado encanto? Oceano discursivo recobrindo o mutismo das esferas / as explicações lógicas aborrecem quem quer perceber / longe é mais sentido : há o antes da Alma / vergastado ao dobre / desinstante / o solar desvanecimento entregando-se ao sopro soturno dando num suspiro galáctico / tudo aconteceu no ato da esperam / há uma escusa excessiva no desnecessário espanto com as fontes e as tormentas / teatro das palavras sucede ao delírio dos significados / o Verbo azeda ao ser posto na boca / cavar um tunel sempre é uma saída ao montante roubado / parceria com a realidade desfeita / sou rival de tudo que espreita : desnudo ao pressentir o contrário do visível / a poesia serve-se dos resquícios de infindável banquete: recuso utilizar-me da compreensão ao grafar ondas e o que pervaga impreciso. ‘’

[Flávio Viegas Amoreira, escritor / crítico literárioJá lançou 5 livros pela 7 Letras, poeta, contista e romancista]
flavioamoreira@uol.com.br

sábado, 13 de setembro de 2008

Joseph de Maistre.


Estou lendo "Las Veladas de San Petersburgo" do filosofo francês Joseph de Maistre (1753-1821), livro que herdei do meu bisavô. O livro é feito de conversas filosóficas entre Joseph e mais dois amigos, durante seu exílio na cidade russa. É de uma sabedoria profunda. Meu bisavô, de quem herdei esse livro, era um carpinteiro em uma cidade do interior da Espanha, e também amante da filosofia, alem musico e pastor de ovelhas.Minha avó conta que enquanto ele se distraia tocando flauta os lobos caçavam suas ovelhas. Instigado pela história escrevi este poema:



O CARPINTEIRO

A Celestino Lagua


Não quis ser ninguém.
Almejei, nesta manhã de inverno,
Ter nascido com o nome eterno.
Seguem-me, mas não me tocam
Na hora mais remota.
Minha flauta é a flauta dos que sonham,
Desconheço a ovelha que foge do rebanho.

Sou carpinteiro das montanhas antigas,
Devo esquecer meu nome verdadeiro,
Os montes são vastos e nunca os abandono.
Ouvi dizer das cidades onde é feita a ciência,
Mas minha flauta é a flauta verdadeira,
De quem nada deseja de um nome
E dorme sob as figueiras
E perde suas ovelhas.



Felipe Stefani.

Desenhos de Felipe Stefani.

Mais desenhos do artista aqui: www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Revista Verbo21

Está no ar a nova edição da Revista Literária Verbo21. Não deixem de conhecer essa revista pioneira na Internet, com dez anos no ar: http://www.verbo21.com.br/

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Daisy Miller de Hery James.

Henry James.

Acabo de ler Daisy Miller de Henry James ( Nova York, 1843 – Londres 1916). Gostei tanto que quero indicá-lo aqui. Envolvi-me em sua forma de descrever a estória, as cenas, os acontecimentos, assim como em sua força trágica. Com certeza lerei outros livros desse escritor que me cativou, “Retrato de uma Senhora” é outro de seus clássicos. Henry James foi influenciado por Balzac, mas tem suas peculiaridades, seu estilo próprio, que me proporcionou uma leitura muito instigante. Não deixem de ler: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2210207&sid=2071592081098783128772839&k5=F11FAB1&uid=

Felipe Stefani.

William Hogarth.

William Hogarth, The Strode Family. c.1738-1742. Oil on canvas. Tate Gallery, London, UK.

Por causa do embate que ocorreu no séc. XIX, entre o Neoclassicismo e o Impressionismo, a pintura neoclássica é vista com grande preconceito nos tempos atuais. Temos que lembrar que esse foi um embate daquele período e não do nosso, e começar a apreciar essas obras sem o véu desse preconceito. Um mergulho profundo nessas pinturas nos ensinaria muito. Um pintor que recomendo é William Hogarth (Londres, 1697 — Lomdres, 1764). Ainda com forte influencia do Barroco, esse pintor pode ser considerado um dos grandes expoentes do Neoclássico. Amo seus retratos da aristocracia e também suas cenas religiosas. Além de pintor, foi também um cartunista, satirizando a política do seu tempo e as alfândegas. Suas telas são belissimas, e com uma apreciação aprofundada, muito instigantes. Uma boa introdução pode ser feita nesse link: http://www.abcgallery.com/H/hogarth/hogarth.html

Felipe Stefani.

O Teatro-Fantasma.

A atriz Ana Beatriz Fusko forma junto com o poeta Marcelo Ariel o grupo "Teatro-Fantasma". É uma proposta inovadora. Nessa entrevista ela nos explica melhor essa proposta, tendo como tema principal a primeira peça do grupo, chamada "Pagu".


1 - Na peça PAGU personagem e atriz se misturam em uma relação imediata, não só entre Pagu e Beatriz, mas também entre vocês e o publico. Onde está a Pagu em você? E onde estão vocês dentro do publico?

Não posso afirmar que há, diretamente, uma mistura Pagu/Beatriz - uma vez que "Beatriz" é apenas a persona (=máscara), a identidade, o RG criado para uma comunicação no mundo, mas identificar-me com esta persona é a grande ilusão. O Eu nada tem a ver com o nome, nem com as experiências que este nome carrega com o passar do tempo. A pagu é só uma referencia, "a mulher do povo", ou seja, toda e qualquer mulher - como se diz que "a historia de um homem é a historia de todos os homens", então - todos estão mergulhados num samsara de enganos, num círculo vicioso de apegos e sofrimentos passageiros, rodando porque se prendem aos grilhões do mundo, aos grilhões de suas próprias mentes. Cessar o círculo é encontrar o ponto imutável dentro se si, o Eu, o eterno, aquilo que nunca muda. Na filosofia mais antiga, da Índia, é tido por real 'aquilo que nunca muda', e 'irreal' aquilo que é perecível, que é temporal. O samsara nada mais é do que o mergulho no irreal e o sofrimento proveniente dele - porque nos apegamos a algo que naturalmente é temporal e queremos que seja eterno. Nos identificamos...Dessa forma, a Pagu está em todos. A peça é uma oportunidade para se observar o círculo de fora. E isso´só é possível porque se trata de uma outra persona. Será bom se puderem arrastar essa percepção para um ponto de partida numa auto-observação da própria vida.

2- O teatro-fantasma me parece uma relação mais direta entre a peça e o publico. Existe algo de religioso nesta relação?

O teatro-fantasma é mais direto porque ele é a própria vida-como-ela-é, ordinariamente. É a simulação da própria vida, do próprio frescor do ser; é a partir dessa simulação que podemos dizer "todos são atores". E o objetivo é justamente este questionamento (para o publico): até onde a ficção não está na nossa vida, e a nossa vida adormecida pela nossa própria atuação? Há um problema quanto a palavra "religioso". Não entendo qual o termo adotado nessa pergunta. Mas, posso responder que, como é sabido, religião = religare. Religar o que? À nossa natureza divina, à nossa consciência, Deus, como-queira-chamar. Nesse sentido digo que sim, existe algo de religioso porque através do cancelamento do teatro-fantasma (da simulação) a cortina cai, a máscara cai, e o real aparece. O que é o real? Gente nua, sem figurino. Gente-divina, gente-amor, gente-consciência. Nesse sentido é possível dizer que é religioso, há uma brecha, uma possibilidade de religare, de reconexão - de cada individuo com o seu Íntimo.

3- Que relação tem o teatro-fantasma com as antigas tragédias gregas, ou com qualquer rito antigo?

Acho que o teatro-fantasma tem muito mais proximidade com a vida propriamente dita, a vida ordinária e comum que as pessoas levam - do que com as tragédias e ritos antigos. O propósito do teatro-fantasma não é o de ser um entretenimento/ distração, nem ensino....Também não é ritualistico, ao contrário, é espôntaneo e não moldável, não-programado, não-nascido. Nasce sempre no instante em que é feito. Eu diria que o teatro-fantasma no contexto do Poema Contínuo´é apenas uma buzina...Como uma buzina. Entretenimentos sempre são convenientes e, muitas vezes, um pouco dopantes. A nossa intenção não é a de ser 'mais uma pílula'. Talvez um sal de frutas. Ou uma bala de abóbora...Algo assim.

4 - Até que ponto você acredita que a sua experiência pessoal se mistura com a da Pagu?

Aqui caímos mais ou menos no mesmo contexto de minha primeira resposta... Mas posso dizer que: tive experiência similares à da Pagu sim. Em parte por minhas inquietudes, que tive desde cedo, questionei e busquei... E em parte, por conta da resposta-mundo que recebi. Essa vivência da 'resposta' não é raro, nem difícil se ter em comum com a Pagu- uma vez que nada mudou e convivemos em uma sociedade basicamente conservadora, uma política hipócrita e uma sociedade machista.

5 - Quais são os projetos futuros do grupo?

O Poema contínuo fala por si só, e ele é vivo. Somos um coletivo e a proposta é que, dentro dessa vivacidade, ele flua, partindo de um ser para outro, uma musica vai sendo cantada, um poema vai sendo composto, um poema...que é contínuo. Aguarde...!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Colaborações: Fotografias de Jorge Santana.

Jorge Santana é um fotógrafo que conheci na internet e tenho a honra de apresentar aqui:
Mais fotos de Jorge Santana aqui: http://www.flickr.com/photos/jasantana/