sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Marcelo Ariel Entrevista Felipe Stefani.
Marcelo Ariel: A poesia é para você uma opção ou uma necessidade, ou seja, você crê em "dom poético" ou o poema é o resultado de uma convicção?
Felipe Stefani:Sem duvida uma necessidade de criar, a primeira coisa que me lembro fazer em vida é desenhar compulsivamente, os moveis da minha casa eram todos desenhados, para desespero da minha mãe. Depois veio a escrita e os poemas. Talvez essa necessidade seja o dom e ao mesmo tempo a convicção. Mas como explicar pessoas que só demonstraram ter um grande "dom" artístico depois dos 60, 70 anos? Esse talvez seja um segredo metafísico.
Marcelo Ariel: Qual seria, na sua opinião, a função social da poesia dentro deste caótico e violentamente fragmentado inicio de século?
Felipe Stefani:Desfragmentar, elevar, modificar as pessoas que forem tocadas por ela.
Marcelo Ariel: Seu primeiro livro, o ótimo "Verso Para Outro Sentido", permanece inédito, muitos poemas dele circulam na Internet. O que significa para você publicar o livro em um pais que nos condena ao fracasso e ao limbo, e qual a importância da Internet diante desse quadro?
Felipe Stefani:A Internet é um meio libertário, que ainda assusta a alguns. Para os novos escritores, proporciona uma boa oportunidade para serem lidos e divulgar seus trabalhos, coisa que seria muito mais difícil caso ela não existisse. Mas o livro impresso é para mim igualmente importante. O livro tem algo que transcende o conteúdo. Quando você da um livro para um amigo, por exemplo, esse objeto tem um significado especial, corpóreo e afetivo.
Marcelo Ariel: Qual a relação entre a poesia e o surf?
Felipe Stefani:A relação é total. Surfar é como escrever um poema. O Surf é uma metáfora da arte.
Marcelo Ariel:Fale um pouco do seu trabalho com o desenho e a pintura, costumo dizer que mais cedo ou mais tarde irei abandonar a literatura e optar pelo silêncio do quadro, e você?
Felipe Stefani:Faz sentido, a poesia é como os gestos do corpo, ela delira, dança e se expande em símbolos obstinados. Uma hora o corpo se cansa. A pintura fala por si mesma e quanto enfim amadurece, ela se torna vida.
Marcelo Ariel: É a poesia um processo de auto-conhecimento dentro da tradição metafísica, você concorda com isso?
Felipe Stefani:A tradição metafísica na arte foi abandonada, alguns tentam resgatá-la, não me sinto muito capaz. Mas pensamento é espírito e as palavras são a manifestação do pensamento, isso é metafísica. A forma como usamos a linguagem na poesia, é sem duvida um processo de auto-conhecimento, uma alquimia do espírito, e assim é para o leitor que se envolve com profundidade com o poema.
Entrevista originalmente publicada em: http://www.teatrofantasma.blogspot.com/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Felipe,
Esses "reloginhos", essa cara de pseudo-cinismo de Marcelo Ariel ( um riso que mal se disfarça, ao fundo...), essa tão boa entrevista... Como tudo isso me soa familiar... E bom!
Um abraço a ambos!
Marcelo.
Postar um comentário