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Sempre que vejo crianças,
Vejo-as correndo, movendo o tempo,
Todas misturadas ao vento.
Sempre me aproximo, são quentes e velozes,
Tão acostumadas aos meteoros,
Dentro da cabeça, todas correndo
No tempo.
Lembro das horas tristes da infância.
A vela que queimava a escuridão.
Tive medo, o abismo do quarto,
Tão negro, misturado no tempo.
Quando anunciavam o dia,
O leite quente com biscoito,
Os meteoros para fora,
Correndo, todos movendo a aurora.
Eu me lembro.
Sempre que vejo crianças,
Vejo-as escritas por dentro.
Todas elásticas,
por dentro e por fora,
tão velozes que sinto medo,
repetindo minha voz primaria
inúmeras vezes até que me lembre,
como mover o ar correndo.
Os meteoros na cabeça,
Sempre que vejo crianças,
Absorvidas em seus córregos quentes.
Onde movem a água,
Voam e correm como meteoros.
Depois do leite a risada,
Como um templo,
Brincava com meus avós.
O menino vendendo balas na praça
Me faz dar rodopios por dentro,
Meteóricos,
Contemplo-me num trabalho radioso,
Carpindo as partes doces e ocultas
Da memória.
No ar, no vento,
Na respiração.
Busco uma criança
Como um brusco cata-vento,
Veloz, extrema
E a anterior a noite.
As crianças se deitam com medo
Do silencio.
Cada casa tem uma criança na imaginação.
***
A noite levou-me qual ébrio furacão dentro do sono a casa o perfume nada sabia do silencio unânime levava o vinho a janela do quarto negro negro minha treva me chamava madame colocava gelo no copo ah caminho vegetal de tentações mesquinhas na manha abri as asas na revolta de um insone o vôo sobre a cidade a cidade a cidade a chaga imediata dos vícios deixei-a entorpecida pálpebra negra enquanto o sol faiscava uma loucura unânime migrei para as visões distantes a aurora e o beijo afundou-a até a doçura do sonho besta soberba no outro dia era um poeta
***
O CARPINTEIRO
A Celestino Lagua
Não quis ser ninguém.
Almejei, nesta manha de inverno,
Ter nascido com o nome eterno.
Seguem-me, mas não me tocam
Na hora mais remota.
Minha flauta é a flauta dos que sonham,
Desconheço a ovelha que foge do rebanho.
Sou carpinteiro das montanhas antigas,
Devo esquecer meu nome verdadeiro,
Os montes são vastos e nunca os abandono.
Ouvi dizer das cidades onde é feita a ciência,
Mas minha flauta é a flauta verdadeira,
De quem nada deseja de um nome
E dorme sob as figueiras
E perde suas ovelhas.
***
Mais poemas do autor nesses links: http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2978
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=2443
http://www.revistazunai.com.br/poemas/felipe_stefani.htm
http://revistamalagueta.com/poemas9/poema-mistico
http://revistamalagueta.com/poemas6/fabula-do-peregrino
http://www.meiotom.art.br/stefanipo.htm
Alguns de seus desenhos aqui: http://www.pbase.com/sodesenho/felipe_stefani
terça-feira, 3 de junho de 2008
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3 comentários:
mano blogueiro, lindo poema.
impressionante a imagem de crianças meteoros.
ando esquecido do que já foi meteoro em mim. Não sempre, mas ás vezes.
Paz e bom humor
Walmir
http://walmir.carvalho.zip.net
Grande Felipe.
Adorei o primeiro e o segundo texto.
Um abraço, cara.
Cadu [www.cultube.blogspot.com]
Felipe,
gostei principalmente do primeiro poema, minha mãe me chamava de furacão. :)
Um beijo.
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