segunda-feira, 28 de abril de 2008

Relações.

Tenho conversado muito com o escultor Megumi Yuasa e o poeta Andre Setti, sobre como unir as diversas linguagens artísticas. Acho que essa união acontece subjetivamente. Pretendemos fazer uma exposição, onde mostraremos essa tentativa de união, expondo não só a obra acabada, mas também o processo de criação, as tentativas, pensamentos, rascunhos, assim como tudo aquilo que esta em relação com o artista, suas parcerias e amizades, correspondências, andanças e meditações. Uma exposição sobre o processo. Quero que esse blog faça parte disso. Este post é só uma tentativa, ainda extremamente prosaica de unir as linguagens. O próprio post é uma tentativa, um rascunho, unindo coisas que a princípio poderiam ser consideradas separadamente. Fiquei muito feliz quando recebi da poeta Maiara Gouveia, um poema ainda inacabado, para que eu faça as ilustrações. O que me deixou contente foi ver que o poema é também, de certa forma, uma tentativa de união das linguagens, sendo uma espécie de teatro-dança barroca e remetendo a imagens pictóricas. Além, é claro, da união do poema com as ilustrações. Tenho escrito poemas bastante libertários, livres de pontuação e talvez de sentido, assim como poemas mais tradicionais e construtivos, buscando novas formas de rimas, estrutura e aliterações, aliás, nada mais transgressor hoje em dia que escrever poemas tradicionais . Quero postá-los aqui em breve , para que, no espírito da futura exposição que farei com o Megumi, possa expor o meu processo de criação, que se busca nesses extremos.

Felipe Stefani.
Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.

Na oblíqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.

Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silêncio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.

Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.

Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.



***
Esculturas: Megumi Yuasa; Foto: Felipe Stefani
Desenho: Sandra Lagua
Fotografia: Nilton Leal
Poema: Felipe Stefani

3 comentários:

maiara gouveia disse...

Amei os desenhos de Recife. Acabo de responder seu último e-mail. Rapidamente, porque o tempo me engole. Besitos.

maiara gouveia disse...

..."nada mais transgressor hoje em dia que escrever poemas tradicionais".

De fato. Um tom sóbrio & o aspecto sagrado da poesia podem ficar muito belos em uma forma tradicional e, sem dúvida alguma, soa trangressor em tempor de poemas-piada-trocadinho e coisas assim. Mas o melhor de tudo é poder experimentar, o campo aberto de possibilidades estéticas. Também sou desse time.

Walmir disse...

Penso que experimentar é passo importante, mano blogueiro. Mas também o persistir em caminhos que o coração artístico aponta, esta coisa fugidia chamada estilo, a precisão com que se acerta o alvo pretendida, a elaboração do próprio risco ou escrita como marca criativa.
Grande abraço
Paz e bom humor, sempre
walmir
http://walmir.caralho.zip.net