Foi com Anaximandro, na Asia Menor, que surgiu pela primeira vez o tipo de pensador que vai lidar com a totalidade do universo, não mais apenas seu nascimento pela ação dos deuses, como pensavam as antigas tradições, mas sim sua realidade própria, a natureza por si mesma.
Acredito que se deu aí a fonte do pensamento ocidental moderno. Para os antigos, tudo era a manifestação do não-manifestado, o que não deve ser confundido com o nada, já que o não-ser só existe a partir da perspectiva do ser, o manifestado. Para os gregos, depois de Anaximandro, a natureza aparece dotada de uma estrutura própria, independente das vicissitudes teogônicas e cosmogônicas.
Talvez por isso Aristóteles ia do ato à potência, do princípio às consequências, e assim é a metafísica, ao contrário da China antiga, por exemplo, que ia do ying ao yang, das conseqüências ao princípio, do inferior ao superior, como no desenvolvimento do processo cosmogônico, onde "no começo" está o caos, as trevas, e a luz está "depois das trevas". Mas esse assunto devo retomar em outra ocasião, aqui no blog.
Ao mesmo tempo que se deu essa mudança com Anaximandro, acontecia na China uma ramificação do saber tradicional entre o confusionismo e o taoísmo e, em outras civilizações, aconteceram coisas semelhantes no mesmo período. Isso remete à teoria cíclica do hinduísmo tradicional, na qual, quando um ciclo chega perto do seu fim, começa a espiritualidade a se ramificar e depois se perde.
Depois da segunda fase grega veio Roma, ainda menos tradicional e, enfim, o cristianismo deu início a um novo ciclo, que teve seu auge na Idade Média. É interessante lembrar que São Paulo disse que foi essa idade da razão (a Roma, menos tradicional a qual me referi) que abriu espaço para a concepção cristã.
Não sei se concordo com essa teoria cíclica (talvez a palavra teoria não seja a mais adequada para este caso), que, colocada dessa forma como expus, remete à idéia de uma união metafísica entre todas essas tradições e também a crença de que todas vieram de uma mesma tradição primordial.
Nem quero aqui dizer quem está certo ou quem está errado por ser este um assunto profundamente complexo. De qualquer forma, é importante poder enxergar a história também por um ponto de vista mais espiritual e não só com o olhar antropocêntrico da modernidade, que só entende as coisas através de seu único ponto de vista, como se o passado e os homens antigos fossem um reflexo ultrapassado de si mesmos.
Felipe Stefani
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