terça-feira, 20 de dezembro de 2011

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"La mer est ton miroir."
Baudelaire




João era homem do mar. Pouco a dizer. Enfrentava marés. Pescava. Morreu com tiro no peito, sobre os rochedos. Encontrado na ponta da praia. Pele fina, enrugada pelas águas. Nada foi dito. Ninguém lamentou. João era incógnito como o mar, quieto como o mar, impenetrável como seus segredos mais longínquos. Ninguém sabia quem era João. Ninguém sabe o que é o mar. Há inumeros joãos. Há muitos mares. Alguns, às vezes, se perguntam: João teria existido ? Tão calado, tão discreto, quase nulo. O mar nunca responde, apenas suspende as barcas. Ninguém sabe o nome oculto das águas. Ninguém sabe nada. Nos mercados fala-se muito. A vida continua. O mar não diz nada. A barca flutua.






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Felipe Stefani, Santos 2011.


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11 comentários:

Anônimo disse...

Felipe,seu poema é muito bonito, trechos de silêncio e reflexão.O mar vem com seu barulho.Adorei!bjs,Dani.

Anônimo disse...

morreu...

Vicente disse...

Olá Felipe,

"As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim. Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente. Em outras palavras: gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. O crocodilo vem ao mundo como um magister da metafísica, pois para ele cada rio é um oceano, um mar da sabedoria, mesmo que chegue a ter cem anos de idade. Gostaria de ser crocodilo, porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade."
(Guimarães Rosa)

Abraços,
Vicente

Leandro Jardim disse...

Bacana, um poeminiconto! :)

Bardo disse...

hei, tiaho, veja este chamado do bar do escritor.
http://bardoescritor.blogspot.com/p/colabore.html

Bardo disse...

tiago não, felipe.
hahaha.

Anônimo disse...

Oi Felipe,

desculpe, passadas palavras de momento...
" mesmo "...

juntei umas fotos e poemas para uma semana cultural q participei e tb, acho q por conhecer tantos poetas...eu acabei fazendo um blog,
não é so poesia ou fotografia e sim,uma junção de várias coisas...

eu quero q conheça, abs

Jaque


http://miralune.blogspot.com/

Anônimo disse...

Saudações quem aqui posta e quem aqui visita.
É uma mensagem “ctrl V + ctrl C”, mas a causa é nobre.
Trata-se da divulgação de um serviço de prestação editorial independente e distribuição de e-books de poesia & afins. Para saber mais, visitem o sítio do projeto.

CASTANHA MECÂNICA - http://castanhamecanica.wordpress.com/

Que toda poesia seja livre!
Fred Caju

sérgio disse...

Mar
regaço abissal
de histórias,
segredos dos homens,
dependurados no varal do TEMPO.

Anônimo disse...

Sempre me entedio com textos de frases curtas, mas esse me surpreendeu. É que ao invés de utilizar os pontos para diminuir o texto, como é muito comum, aqui os pontos aparecem para expandi-lo (nessas viradas de onda, típicas do mar, que conduzem as pessoas ao anonimato, as coisas pequenas em imensidão). Gostei bastante dessa surpresa!

Carina Carvalho disse...

li no Cronópios e vim aqui para comentar.

é lindo.