Por Flávio Viegas Amoreira
“Quem nasce num porto de mar tem tudo para ser sábio” Paulo Mendes da Rocha (arquiteto)
Novas cores para o pós-tudo que enfrentamos. Assim emocionado li a matéria de 11 de abril de A Tribuna: Arte deixa a Vila Gilda com as cores da esperança. Inteirações estéticas, superfícies líquidas, soluções movediças para um universo em transe: o risco das marés reentrantes agora tonalizadas de cores iluminando o Rio Bugre. Uma exposição impermanente , Cores no dique foi idéia concretíssima do artista plástico e filósofo santista Maurício Adinolfi, projeto aprovado pela Funarte e que mobilizou comovidamente os moradores dos barracos sobre palafitas do dique, braço de mar que abraça essa nossa ilha (in) comum. Folhas de madeirite simetricamente esquadrinhadas tingindo de poesia o cotidiano reinventado dessa gente valorosa que persegue ainda o mito de morar onde o Oceano vai querendo preencher seu espaço. Habitações de nobreza lírica. Que dignidade nesse empreendimento convergindo sonhos, perspectivas e o maior desafio do Homem: a capacidade de ainda dar sentido ao encanto. Nenhum paternalismo: o artista coordenou sua visão amplificando sua percepção com o entusiasmo dos agentes e protagonistas desssa metamorfose urbanística de dimensão global apartir da interferência nas peculiaridades da vivência ribeirinha local.
Nenhuma transcendência me balança tanto quanto a beleza imanente: nenhuma carência é mais urgente que a do espírito saciado plasticamente pela mutação do instante. Casas-navegantes: dormentes que sustentam Mondrian e Kandinsky pelos manguezais de Santos! Ludicamente compostos, os barracos ganham matizado sinestésicos da maresia. Nenhum arranha-céu da burguesia me move tanto à persistência quanto o arquipélago onírico da Vila Gilda. A Arte é a religião dos sem fé além da fé no humano: o pintor que vai pincelando almas, traçando esboços impactados nas águas salobras do horizonte. A experiência da arte não simplesmente uma passiva recepção sensorial tranqüilizante: Arte para quem de tudo precisa no ofício impreciso da Vida. Maurício Adinolfi imprimiu o dique de azul-futuro; simbólico empenho: o real soçobra enquanto a minha crença vem do universo-dique, arquipélago arco-irís que não se desmancha: desdobra no canal mirando a costa ampla. Cores no Dique: deu-me orgulho “viver” santista; povo do dique perseguindo o enfrentamento das marés; bravos sujeitos de sua História.
Nenhum comentário:
Postar um comentário