Por Marcelo Ariel
O trabalho de Juracy Silveira (acima, "Mães da Praça de Maio") aponta para uma religiosidade laica, se entendermos a palavra religiosidade em seu sentido mais amplo, o da idéia que reivindica a busca de um alto sentido para uma humanidade, que pode ser encontrada dentro da humanidade. Seus quadros colocados lado-a-lado nessa "Quase retrospectiva", formam uma espécie de mapa da tragédia humana, mesmo aqueles que utilizam uma linguagem abstrata irradiam essa tragicidade, que parece ser a essância de todos os tempos da história humana.
Os quadros com uma temática social mais explícita, nos quais Juracy utiliza forma aparentemente simples (e quando ouso dizer simples, evoco para essa palavra o mesmo sentido alcançado pelo último Fernando Pessoa, o das "Quadras ao gosto popular", esses poemas "populares" do bardo português) e os quadros de denúncia social do Juracy revelam a ingênua complexidade da existância e sua absurda tristeza metafísica. Por exemplo, uma face sem rosto, pensando no meio das trevas, de um dos quadros de J.S. nesta exposição, nada mais é do que um tema pessoano inserido dentro de um contexto social atravessado pela angústia coletiva.
Nos poemas da fase final de Fernando Pessoa, o artista sai de seu interior-abstrato e tenta estabelecer um diálogo com o imaginário da gente pobre de Portugal, movimento similar ao que Juracy efetua ao sair de uma forma abstrata para chegar até os quadros de denúncia social, que são um meio que J.S. utiliza para dialogar com a história da gente pobre do Brasil e do mundo, com os desvalidos, humilhados e ofendidos do globaritarismo. Aos que, porventura, estranharem a aproximação que faço aqui, entre um grande poeta e um ótimo pintor, lembro que este texto não é outra coisa senão uma outra aproximação semelhante, com um diferencial, com o poeta que julgo ser. Por isso evoco Fernando Pessoa ao invés de evocar a mim mesmo: utilizo este procedimento para dar conta da importância dos quadros do Juracy, quadros que como nuvens flutuarão num tempo vertical em direção a uma poética da permanência.
Texto escrito para a exposição do artista realizada em Cubatão entre 02 e 14 de setembro. O ateliê de Juracy Silveira fica na sede do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Santos, na Joaquim Távora, na Vila Mathias.
domingo, 12 de outubro de 2008
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