Eu vi o escasso tempo de malabarismos juvenis
A estalar a seiva acidentada da tarde,
A aurora pura entrelaçada ao meu próprio sono
Nos instantes precários de um segredo vago.
Na obliqua solidez dos corpos
Abre-se a rosa inicial sem nome, turva e casta,
Impura como a brisa imaculada dos sonhos, da voz,
Em uma espécie de chamado.
Eu vi o estrondo de uma gloriosa infância,
A alegria que em mim eram crianças cintilantes,
Na tarde volúvel, onde o mar, em silencio maior,
Faz dos corpos uma presença errante.
Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,
Seus beijos ao mar e sua oferenda de mistérios,
Na rosa oblíqua de um chamado puro,
Na vastidão precária dos instantes.
Eu vi tudo isso e amei, sendo eu mesmo uma oferenda eclusa
Aos mistérios juvenis, que desafiam os segredos do mar.
Não te deites com a volúpia presa aos dentes,
se pretendes despertar os lobos.
Madrugada,
o uivo sonda seus ossos.
Alquimia não consiste em acalentar o orgulho.
Os lobos sabem farejar as sombras,
violetas e asteróides,
não envolvem seus mundos.
Sutileza,
presa acidentada dos cálculos,
a cidade tem uma cegueira acelerada,
os lobos avançam,
teu quarto tem extremidades impossíveis.
A volúpia brota de ossos cegos,
onde a vida, com seus lábios violetas,
não penetra.
Tu, cadáver de si mesma,
volúpia acidentada,
não penetre a alquimia com asteróides cegos.
Os lobos te envolvem, no lado mais sutil do orgulho.
Madrugada
tem acordes turvos.
Deitas-te a cama,
o edifício encravado na cidade
não supõe seus lobos extremos.
Com volúpia, não calcule a cegueira,
sem supor seus uivos.
Brotam nas sombras,
brotam nas ruas,
em espaços turvos,
no sorriso das cifras.
Avançam a madrugada em que te deitas
cadavérica,
farejam e ao farejar te despertam,
tão inesperada como um asteróide.
***
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4 comentários:
li o dos malabarismos. nos versos finais e me surpreendi com sua presença, quieta , observadora meio a todo um cosmo.essa tua presença dá, numa simples menção, toda umaa posição espiritual...
"...Devo amar calado o triunfo crepuscular da juventude,...". este verso cria uma fusão toda especial com os versos começados com " eu vi". é a presença da lira( como já chamei tua atenção), e a lira ligada à visão apontada nos versos anteriores...
todo um cosmo triunfante, e crespuscular, então, se cria. e sua posição assinala a ti, diria com fisicalidade. fisicalidade que observa a outras fisicalidades numa comunhão verdadeiramente cósmica pela Visão oferecida...
é um acontecimento este de corpos, meio que em incompletude e o vagar da visão com que constróes o poema. uma rosa inicial. um mistério, o mar e um desafio. a criação de cosmo a partir de uma vivência que constróe uma visão. este processo é fascinante, enigmático...
Felipe:
Que bom ler você.
Parabéns!
Acabei de ouvir a Christina Carvalho Pinto citar um trecho do GRande Sertão.Uma fala do Riobaldo que tem tudo a ver com vc:
" Agora vai ou vai"
Sucesso!
Ana
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